Antonio Carlos Egypto
UMA BELA VIDA (Le Dernier Souffle). França, 2024.
Direção: Costa- Gavras. Elenco:
Denis Podalydés, Kad Merad, Marilyne Canto, Charlotte Rampling, Angela Molina. 99 min.
A morte pode ser mesmo a única certeza da vida, mas é muito difícil lidar
com ela. A finitude é um desafio
permanente para a humanidade. O medo da
morte ou de como ela ocorrerá é universal.
Para conviver com a dúvida, temos de produzir certezas, tais como o
paraíso, a reencarnação, a nossa transformação em animais, plantas, pó
estelar... Mas ainda que creiamos
firmemente em qualquer dessas coisas (ou outras mais), o final da vida e de
como a morte se dará, permanece um mistério que angustia.
Afinal, o que seria uma boa morte, uma boa forma de morrer? É possível prepará-la? Planejá-la?
Como resistir à dor e ao sofrimento?
Onde estar? Como usufruir do fim da vida, onde ainda há vida? Essas são
apenas algumas das muitas questões que envolvem a morte, abordadas pelo
veterano cineasta Costa-Gavras, hoje com 92 anos de idade, no filme de 2024,
“Uma Bela Vida”.
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Costa-Gavras |
Os personagens principais, vividos por dois grandes atores, são Fabrice
(Denis Podalydés), um escritor que tenta tratar do assunto com toda a
complexidade que ele merece e, para tanto, observa, pergunta, conversa, interage
com seu amigo, o dr. Augustin (Kad Merad), que se especializou e se dedica à
medicina dos cuidados paliativos. O seu
trabalho já não visa mais a cura, mas a melhoria da qualidade de vida daqueles
que estão nos momentos finais da existência, mitigando seu sofrimento,
humanizando a partida.
Como os pacientes, as pessoas em geral, enfrentam esse desafio? Lutar com todas as forças para viver? Deixar fluir, entregar-se, acelerar o
processo? Compartilhar sensações e
sentimentos? Revoltar-se e
desesperar-se? Cada resposta é uma
resposta e todas fazem sentido para cada uma das pessoas, em função do que foi
e é a sua vida.
Mergulhar nesse universo instigante e totalmente incerto é necessário e
parece cada vez mais importante no século XXI, pelo alongamento da experiência
da vida, pela evolução da medicina, da tecnologia e do conhecimento das
ciências humanas, individual e coletivamente.
Costa-Gavras, de quem todos devem se lembrar, já nos deu muitos filmes
importantes, com destaque para “Z”, 1969, e “Desaparecidos: um grande mistério”,
1982. Ele faz aqui um filme de grande
sensibilidade e com seu talento e delicadeza produz um trabalho autoral que com
leveza nos conduz aos estertores da existência humana.
Além dos protagonistas, seus familiares e equipe de trabalho,
acompanhamos os diversos pacientes terminais que são atendidos pelo dr. Augustin
e observados por Fabrice, sua diversidade, como eles lidam com a vida que está
no fim da vida. E como afetam,
surpreendem e transformam os dois protagonistas, atingindo todos nós,
espectadores.
O DESERTO DE AKIN
Entrou em cartaz nos cinemas um filme brasileiro, produção do Espírito
Santo, de 2024, dirigido por Bernard Lessa, “O Deserto de Akin”, que aborda
como personagem central um médico cubano, que veio trabalhar nos rincões do
Brasil e daquele estado, no programa Mais
Médicos, se adaptou e prestava um importante serviço a uma comunidade
totalmente carente de médicos, até então.
Em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, o programa foi extinto e Akin
vive o drama de tentar permanecer no Brasil ou voltar a Cuba, rompendo relações
não só com a comunidade como com os amigos e objetos de desejo que encontrou
por lá. No elenco, o ator cubano Reynier
Morales, Ana Flávia Cavalcanti, Guga Patriota, Welket Bungué. 78 min.
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