Antonio Carlos Egypto
SÍNDROME DA APATIA (Quite Life). Europa, 2024.
Direção: Alexandros Avranas.
Elenco: Gregory Dobrygin, Chulpan Khamatova, Naomi Lamp, Miroslava
Pashutina. 99 min.
Se a realidade se apresenta insuportável para pessoas com poucos recursos
psíquicos, seja pela imaturidade, seja pela incapacidade de lidar com a
situação, o inconsciente pode produzir um apagamento, um rompimento com a
realidade. A pessoa pode entrar em coma,
desligando-se do mundo. É a isso que
poderíamos chamar de síndrome da apatia, título dado ao filme do diretor grego
Alexandros Avranas, que já nos deu o brilhante “Miss Violence” e recebeu o Leão
de Prata no Festival de Veneza 2013. Em “Síndrome da Apatia”, ele e Stavros
Pamballis constróem um roteiro ficcional inteiramente baseado numa realidade
assustadora e a partir de histórias que se repetem.
No caso específico do filme, trata-se de uma família russa, o casal
Sergei (Gregory Dobrygin) e Natalia (Chulpan Khamatova) e duas filhas ainda
crianças, Katia (Miroslava Pashutina) e a pré-adolescente Alina (Naomi Lamp),
que partiram da Rússia em busca de segurança e para evitar novas agressões em
seu país de origem.
Buscam asilo na Suécia, aguardando pela sua concessão, seguindo todas as
exigências do país de destino, com as filhas adaptadas aos hábitos e inclusive
ao idioma. Entretanto, o visto lhes foi
negado, levantando-se dúvidas em relação aos fatos narrados como motivos para o
pedido de asilo.
Para Katia, foi demais. Ela
desmaia e entra em coma. De outra
maneira, isso também vai se dar com Alina, criando-se, então, uma situação mais
do que dramática, trágica.
Como os pais lidarão com isso?
Como os serviços suecos lidam com essa síndrome, uma vez que ela já foi
identificada em muitos casos por lá, além de outros países? É por aí que o filme vai caminhar. A questão migratória dos nossos dias alcança
uma gravidade que produz doenças, disfunções de todos os tipos e questões
sociais sérias e urgentes.
Ao tratar da síndrome da apatia, Avranas explora a opressão que se
esconde na burocracia inflexível e gélida que produz desumanidade e grandes
equívocos. A síndrome é a resultante
disso tudo. Inacreditável, mas também
compreensível. Um desafio a ser
encarado, sobretudo pelo continente europeu.
Por sinal, o filme foi produzido por vários países da Europa: França,
Alemanha Suécia, Grécia, Estônia e Finlândia, e é falado em russo, sueco e
inglês. Evidência de que o problema é
amplo e disseminado, surpreendendo a todos pela extensão que vai assumindo.
O filme se vale de um ultrarrealismo, com interpretações sóbrias,
contidas, emoções negadas, sufocadas, fotografia em cores pálidas, sobriedade
também nos enquadramentos e movimentos de câmera. Tudo muito enxuto para que se sobressaia o
que interessa, a discussão séria do problema.
É um trabalho muito bem feito, competente. E, além disso, fundamental, indispensável.