Antonio Carlos Egypto
A
questão transexual adquiriu importância e relevância maior nos últimos tempos,
com a derrocada de tabus e o reconhecimento do valor da diversidade, pela
maioria das pessoas. O cinema tem
refletido muito isso, com filmes que destacam personagens trans na ficção e
dando voz e vez às pessoas chamadas não-binárias no registro documental. Três filmes, que estão em cartaz nos cinemas,
têm a questão transexual no centro de suas narrativas.
ORLANDO, MINHA BIOGRAFIA POLÍTICA (Orlando ma biographie politique),
documentário francês, de 2023, dirigido pelo filósofo, ativista e escritor
trans, Paul B. Preciado, que agora é também cineasta, homenageia o personagem
Orlando, de Virginia Woolf, de 1928.
Esse romance teve o primeiro personagem mudando de sexo no meio da
história. Preciado apresenta no filme 26
pessoas trans ou não-binárias, de 8 a 70 anos de idade, que se apresentam como
representando o papel de Orlando. Na
verdade, estão falando de si próprias, se dando a conhecer, atuando no
cotidiano de suas vidas e interagindo com suas vivências, o que não deixa de
ser representação. O filme é um
documentário, poético e visual, muito interessante de se ver e que consegue até
mesmo esclarecer didaticamente aqueles que ainda não se situam direito nesses
novos conceitos. E o faz sem restringir.
Ao contrário, amplia as perspectivas de compreensão social e política desse
universo, digamos, queer. Seria interessante que justamente as pessoas
com mais dúvidas ou resistências fossem ver o filme, para entender melhor o que
se passa nessa realidade ainda desafiadora para nós, para eles, para
todos. 98 min.
CAMINHOS CRUZADOS (Crossing) é um filme da Georgia e
Turquia, de 2023, dirigido pelo georgiano radicado na Suécia, Levan Akin (de “E
Então Nós Dançamos”, 2019). No elenco:
Mzia Anabuli, Lucas Kankava, Deniz Dumanli.
105 min. A narrativa do filme
foca na figura da senhora Lia, que está em busca de sua sobrinha Tekla, que ela
não vê há muito, mas que prometeu à irmã falecida, mãe de Tekla, resgatá-la e
trazê-la de volta. Para isso, tem de,
partindo da Georgia, ir à vizinha Istambul, onde presumivelmente a sobrinha
estaria. Sem falar turco ou inglês, aceita
a companhia de um jovem para ajudá-la.
Nessa viagem, vão ficando claras as coisas. Tekla está ligada ao mundo transexual da
cidade, o que tenderia a aproximá-la da prostituição e das drogas. Mas nesse meio há também sucessos, como o da
trans Evram, advogada e defensora dos direitos humanos, que vai colaborar nessa
busca. Enfim, trata-se de penetrar no
submundo de Istambul, para conhecer a realidade dos transexuais, suas
rejeições, sofrimentos, abandonos, transgressões e fantasias. Ao mesmo tempo, Lia estabelece uma relação
difícil com seu acompanhante, que poderia ser seu filho e que está bem
necessitado de apoio e de afeto. A
jornada de Lia levará a uma compreensão mais profunda desse universo tão
palpável e tão desconhecido da transição de gênero, ou da eliminação da
necessidade dessa escolha. Uma mensagem
escrita na abertura do filme informa que em georgiano e em turco não existe uma
palavra diferenciadora de gênero para pessoas.
Destaque para a trilha sonora com canções locais muito bonitas.
A FILHA DO PESCADOR (La estrategia del Mero) é um filme da
Colômbia, de 2023, dirigido por Edgar De Luque Jácome, filmado na República
Dominicana, que conta, além desses dois países, com Porto Rico e o Brasil, na
produção e distribuição. É o primeiro
longa do diretor colombiano. No elenco:
Roamir Pineda, Nathalia Rincón, Henry Barrios, Jesús Romero, Modesto
Lácen. 78 min. Numa ilha isolada do mar do Caribe, numa
aldeia, vive um pescador tarimbado na pesca submarina em mergulho livre. Convive com as alterações do mar e com ele
tem uma relação de amor e domínio em sua solidão. Até que aparece na ilha seu filho Samuelito,
uma mulher trans, renomeada de Priscila, que está fugindo de uma confusão em
que se meteu e que resultou numa morte.
Ela e o pai pescador são água e vinho, ele a hostiliza e rejeita, do
mesmo modo que ela não o aceita por conta do passado, das relações rompidas
dele com a mãe. Será preciso que o
pescador adoeça e se torne vulnerável para que as relações possam tomar outras
proporções e caminhos. Assim como o mar,
os relacionamentos e emoções são sujeitos a ondas, revoluções, tempestades,
furacões. O filme é um tanto
esquemático, nessa evolução narrativa, falta um tempo de elaboração para que os
fatos se processassem como acontece. Algumas
mudanças de atitude são bruscas e inconvincentes. No entanto, o conjunto se sustenta e as
filmagens no mar dão um toque de beleza à realidade dura da transexualidade num
ambiente conservador, que o filme mostra com clareza.
Obrigada Egyto pelas indicações. Gostei demais de caminhos cruzados .os outros nao vi mas devo dizer que esse tema esta sendo demasiadamente inserido em todos os campos de filmes pslestras livros jovens dizendo que vao escolher que sexo vao querer ter qdo adultos pais que acham tudo isso pertinente nao sei o que pensar
ResponderExcluirUm exagero na midia. Me de sua opiniao. Bjs
Você esqueceu de por seu nome na mensagem. De qualquer modo, a transexualidade existe, é fato e precisa ser entendida, discutida e acolhida.
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