Helena
Ignez, uma das mais importantes mulheres do cinema brasileiro, com 60 anos de
carreira, aos 85 anos de idade, lança seu filme colagem ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE, Brasil, 2023, título emprestado da obra
de Oswald de Andrade (1890-1954), fonte inspiradora do seu trabalho, assim como
o poeta Arthur Rimbaud (1854-1891).  Por
que filme colagem?  Porque ela lançou um
sem-número de questões, discussões, imagens, que mesmo que remetam a
lembranças, experiências de todo o tipo, procuram falar à contemporaneidade.  Com toda a intensidade.  Dá destaque à sexualidade feminina e à
liberdade da mulher, por meio da personagem Jaida (Helena Ignez), artista,
sexóloga e roqueira, que dá cursos e promove o orgasmo como fonte de
autoconhecimento.  Num clima sempre
libertário, aborda a contracultura, o desbunde, a carnavalização, com
preocupações com a fome, a desigualdade, a diversidade e os direitos
humanos.  Ney Matogrosso, no papel de
Lírio, é um defensor desses direitos humanos e uma figura de reflexão, afeto e
amizade, que confere ao filme uma dimensão muito positiva e propositiva.  O filme aborda também a questão palestina,
identidade e representação num Estado, por meio de um personagem que,
professando o islamismo, evita qualquer contato com mulheres fora ou antes do
casamento.  É difícil explorar tantos
temas, tantas preocupações, emoções e memória, ainda mais tendo de inseri-las
no contexto da pandemia, que abateu a todos. 
De qualquer forma, o filme deixa uma espécie de legado de toda uma
geração com uma história de vida com generosidade, em busca do prazer e da
felicidade para todos.   100 min.
“Que
história é esta que meu avô não contou para meu pai, que não contou pra mim,
que não aprendi na escola, nem nos livros”, canta o rapper no início de REVOLTA
DOS BÚZIOS, documentário dirigido e roteirizado por Antonio Olavo.  Ele está falando de uma revolta ocorrida em
1798, na Bahia, também chamada de Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana,
Sedição ou Inconfidência.  Mas que, na
verdade, é quase desconhecida, ficou escondida na história.  Assim como a Inconfidência Mineira, de
Tiradentes, ocorrida alguns anos antes, a inspiração era francesa, com as
ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que impunham o fim da escravidão
e o desejo de uma República.  Organizada
pelo povo negro, acabou contando com a ajuda de membros da elite branca, que
acabaram sendo poupados, enquanto os heróis negros daquele levante: Luiz
Gonzaga, Manoel Faustino, Lucas Dantas e João de Deus tiveram destino
semelhante ao de Tiradentes, com todas as crueldades daquele período.  O filme mostra o empenho da luta, no
dia-a-dia, mas o resultado foi pífio, já que houve delações que acabaram
inviabilizando as ações.  No entanto,
houve uma devassa que durou quinze meses. 
A repressão foi fortíssima e desproporcional a tudo o que aconteceu.  É importante resgatar episódios como esse da
história brasileira, para mostrar a resistência e a luta do povo negro frente à
escravidão e os anseios por liberdade e uma vida digna para todos, que as
elites trataram de impedir por todos os meios. 
A produção é da Bahia, de 2018, com duração de 73 min.


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