sexta-feira, 24 de maio de 2024

DOIS FILMES BRASILEIROS

                             

 Antonio Carlos Egypto

 

 


Helena Ignez, uma das mais importantes mulheres do cinema brasileiro, com 60 anos de carreira, aos 85 anos de idade, lança seu filme colagem ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE, Brasil, 2023, título emprestado da obra de Oswald de Andrade (1890-1954), fonte inspiradora do seu trabalho, assim como o poeta Arthur Rimbaud (1854-1891).  Por que filme colagem?  Porque ela lançou um sem-número de questões, discussões, imagens, que mesmo que remetam a lembranças, experiências de todo o tipo, procuram falar à contemporaneidade.  Com toda a intensidade.  Dá destaque à sexualidade feminina e à liberdade da mulher, por meio da personagem Jaida (Helena Ignez), artista, sexóloga e roqueira, que dá cursos e promove o orgasmo como fonte de autoconhecimento.  Num clima sempre libertário, aborda a contracultura, o desbunde, a carnavalização, com preocupações com a fome, a desigualdade, a diversidade e os direitos humanos.  Ney Matogrosso, no papel de Lírio, é um defensor desses direitos humanos e uma figura de reflexão, afeto e amizade, que confere ao filme uma dimensão muito positiva e propositiva.  O filme aborda também a questão palestina, identidade e representação num Estado, por meio de um personagem que, professando o islamismo, evita qualquer contato com mulheres fora ou antes do casamento.  É difícil explorar tantos temas, tantas preocupações, emoções e memória, ainda mais tendo de inseri-las no contexto da pandemia, que abateu a todos.  De qualquer forma, o filme deixa uma espécie de legado de toda uma geração com uma história de vida com generosidade, em busca do prazer e da felicidade para todos.   100 min.

 


“Que história é esta que meu avô não contou para meu pai, que não contou pra mim, que não aprendi na escola, nem nos livros”, canta o rapper no início de REVOLTA DOS BÚZIOS, documentário dirigido e roteirizado por Antonio Olavo.  Ele está falando de uma revolta ocorrida em 1798, na Bahia, também chamada de Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição ou Inconfidência.  Mas que, na verdade, é quase desconhecida, ficou escondida na história.  Assim como a Inconfidência Mineira, de Tiradentes, ocorrida alguns anos antes, a inspiração era francesa, com as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que impunham o fim da escravidão e o desejo de uma República.  Organizada pelo povo negro, acabou contando com a ajuda de membros da elite branca, que acabaram sendo poupados, enquanto os heróis negros daquele levante: Luiz Gonzaga, Manoel Faustino, Lucas Dantas e João de Deus tiveram destino semelhante ao de Tiradentes, com todas as crueldades daquele período.  O filme mostra o empenho da luta, no dia-a-dia, mas o resultado foi pífio, já que houve delações que acabaram inviabilizando as ações.  No entanto, houve uma devassa que durou quinze meses.  A repressão foi fortíssima e desproporcional a tudo o que aconteceu.  É importante resgatar episódios como esse da história brasileira, para mostrar a resistência e a luta do povo negro frente à escravidão e os anseios por liberdade e uma vida digna para todos, que as elites trataram de impedir por todos os meios.  A produção é da Bahia, de 2018, com duração de 73 min.



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