quarta-feira, 27 de setembro de 2023

PÉROLA

                Antonio Carlos Egypto

 



PÉROLA.  Brasil, 2022.  Direção: Murilo Benício.  Elenco: Drica de Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz, Cláudia Missura.  90 min.

 

“Pérola” é a história de uma mãe, daquelas muito especiais, pelo estilo de se comportar, pela dedicação à casa e à família, mas também pelas excentricidades e pelo apelo ao álcool, à bebida, como combustível diário da eletricidade dessa figura.  Seria preciso uma grande atriz para dar conta desse papel.  O filme “Pérola” conta com Drica de Moraes brilhante, luminosa.  Só ela já vale o filme.

 

O personagem central da história, ou melhor, o que conduz a trama e nos mostra quem é Pérola é, na verdade, seu filho Mauro, papel de Leonardo Fernandes, excelente, também.

 

Mauro, o filho, é o escritor e dramaturgo Mauro Rasi (1949-2003), que se colocou na peça teatral que escreveu com muita honestidade, com uma riqueza de detalhes de sua vida familiar (e também profissional, artística) e conquistou o público no teatro.  “Pérola” foi um sucesso teatral enorme e é o que impulsionou sua adaptação ao cinema.

 

Era um risco, até porque o texto contava com a reação direta do público numa série de situações curiosas, engraçadas, provocantes, e que pressupunham identificação da plateia com aquela realidade, bastante familiar, do interior de São Paulo, da Bauru de origem de Mauro Rasi e de acolhida ao seu retorno.  Ou não.  Ou, talvez, quem sabe.

 




A adaptação deu certo, flui bem, creio que vai provocar envolvimento do público, semelhante ao que se deu no teatro, e do qual fui testemunha na época.  Mérito de Murilo Benício, o diretor, que a maioria das pessoas conhece como ator, mas que já mostrou seu talento de cineasta em “O Beijo no Asfalto”, de 2018, em que fez uma versão em construção do texto de Nelson Rodrigues muito eficiente e criativa.  Atuou também como roteirista nesse filme e em “Pérola”.

 

A Pérola da peça teatral foi Vera Holtz, num papel marcante e inesquecível, mas Drica de Moraes faz jus ao mesmo papel no cinema.  Não vou comparar Rodolfo Vaz com Sérgio Mamberti, que chegou a fazer o pai de Mauro no teatro.  Dizer apenas que a atuação de Rodolfo, como o marido que não só admira como faz escada para a mulher, ou seja, oferece a ela todas as condições de brilhar e de se destacar, incluindo os drinques especiais que cria, é muito bom e cativante também.

 

O filme tem tudo para funcionar bem para um público amplo, é diversão de qualidade e bem inteligente.  Resta saber se chegará ao número de pessoas que poderiam apreciá-lo.  Aí vai depender do lançamento, do marketing, essas coisas.  Torço pelo sucesso do filme, reeditando o do teatro.  Antes de mais nada, porque o texto de Mauro Rasi faz por merecer, mais uma vez.





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