sexta-feira, 4 de novembro de 2022

FILMES BRASILEIROS NA # 46 MOSTRA

    Antonio Carlos Egypto

 




ELIS & TOM, SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ, dirigido por Roberto de Oliveira, com roteiro de Nelson Motta, é um documentário que encanta qualquer um que tenha sensibilidade musical.  Vai em busca de resgatar uma experiência de 1974, já tem quase 50 anos, quando Elis Regina, ao completar 10 anos de carreira artística, muitíssimo bem-sucedida, ganha de presente de sua gravadora o projeto de realizar um disco histórico ao lado de Antônio Carlos Jobim, reconhecidamente compositor maior da nossa música.  Além de maestro, arranjador e instrumentista exímio.  Figuras emblemáticas que tinham de se entender para produzir juntas o que, hoje sabemos, seria um dos mais importantes discos de toda a história da música popular brasileira.  Como o filme conta, não foi fácil.  César Camargo Mariano, pianista e arranjador no disco, relata sua epopeia naquele estúdio MGM de Los Angeles, Califórnia, onde o disco foi realizado, com um clima de liberdade muito diferente daquele que existia no Brasil, com a ditadura militar.  Músicos brilhantes, que participaram do disco, também contam bastidores da produção, enquanto o filme nos lembra quem eram e o que faziam Elis e Tom, separados e reunidos nesse trabalho.  A música da melhor qualidade possível e imaginável toma conta da tela e dos nossos ouvidos de forma arrebatadora.  Sei que estou me valendo de adjetivos até pomposos para falar desse documentário.  Mas, podem crer, o filme vale tudo isso.  Ganhou o prêmio da Crítica na 46ª. Mostra, não foi à toa.  É um trabalho realmente espetacular.  Fiquem atentos para quando ELIS & TOM chegar aos cinemas.  100 min.

 



Diante da extrema pobreza, a oferta de um dinheiro inesperado e a melhoria nas condições de vida podem fazer com que uma família aceite participar de uma situação que envolve crimes.
  É o caso relatado em CARVÃO, dirigido e roteirizado por Carolina Markowicz, seu primeiro longa.  Irene e Jairo têm uma pequena carvoaria no quintal de casa, têm um filho pequeno, Jean, e o pai dela, acamado, que já não fala nem ouve e, praticamente, não sai de casa.  Fazem um acerto para receber um estrangeiro misterioso em casa, por um tempo.  Claro que isso vai mudar toda a vida dessa família, não só pelos riscos envolvidos, como pela crueldade presente na situação.  A narrativa do filme é muito bem construída e consistente.  Ainda mais, considerando o absurdo do que estão vivendo os personagens.  CARVÃO convence, não só pelo roteiro e pela boa direção, mas pelo excelente elenco, que tem Maeve Jinkings, ótima como Irene, Rômulo Braga bem, como Jairo, o renomado ator argentino César Bordón como o estrangeiro e o menino Jean Costa, muito expressivo e também sabendo se conter, num papel que exige discrição do personagem.  O filme, além de ter sido exibido na 46ª. Mostra, em São Paulo, foi exibido no Festival do Rio e já está em cartaz nos cinemas.  107 min.

 




O grande diretor pernambucano Marcelo Gomes, de ótimos filmes, como “Cinema, aspirinas e urubus” (2005), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009) e “Estou-me guardando para quando o carnaval chegar” (2019), entre outros, nos traz agora PALOMA, uma história tocante de uma mulher trans que quer casar na igreja, com véu e grinalda.  Ela está, de algum modo, assimilada na comunidade rural onde vive como agricultora e mora com um namorado.  Mas o sonho que envolve os símbolos do casamento, interditado pela igreja aos gays e transexuais, é um desejo mais forte do que ela.  Em sua ingenuidade, Paloma vai em busca do seu desejo, custe o que possa custar.  Talvez sem poder avaliar a reação de uma comunidade tradicionalista à concretização desse sonho.  O filme explora muito bem a figura da personagem trans, num belo desempenho de Kika Sena, e aponta para a ambiguidade e a hipocrisia das pessoas e da sociedade, principalmente em contextos conservadores, em que as expressões só são toleradas se escondidas, enquadradas, ou então serão reprimidas.  PALOMA foi exibido também nas Mostras de São Paulo e do Rio e já está em cartaz nos cinemas.  Com Kika Sena, Ridson Reis, Zé Maria, Suzy Lopes, Ana Marinho.  103 min,

 

@mostrasp



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