segunda-feira, 3 de outubro de 2022

ENNIO, O MAESTRO

                                          

 Antonio Carlos Egypto

 

 



ENNIO, O MAESTRO (Ennio).  Itália, 2021.  Direção: Giuseppe Tornatore.  Documentário.  150 min.

 

Dizer que o compositor e maestro Ennio Morricone (1928-2020) tenha sido um dos maiores talentos da música para o cinema, em toda a história da sétima arte, não é nenhuma novidade.  Acrescentar que ele foi também um grande criador da chamada música absoluta, para diferenciá-la da música aplicada, por exemplo, ao cinema, ou um experimentalista nesse terreno, talvez agregasse alguma informação menos evidente.  De qualquer modo, a figura artística de Ennio Morricone é imensa, vai da música sinfônica, passando pela experimentação sonora, à música popular de todas as formas e estilos.

 

Naturalmente, um documentário como “Ennio”, dirigido por Giuseppe Tornatore, o diretor de “Cinema Paradiso”, uma das melhores trilhas criadas por Morricone, privilegiaria as suas mais de 500 trilhas produzidas em décadas, desde 1961, como foco.  Mas não ignora os demais aspectos da obra do grande compositor. 

 

O centro do filme é uma longa e excelente entrevista com Ennio Morricone, em que ele aborda desde o início de sua vida artística como trompetista, por imposição do pai, até suas famosas trilhas sonoras, expostas aqui da forma como foram criadas, com que intenções, por meio de precisões sonoras e até detalhes técnicos que interessarão especialmente aos músicos.  Além do papel de sua esposa, Maria Travia, como primeira ouvinte crítica. 

 

É uma conversa profunda de alguém que tem a música na cabeça, dentro de si, e que diante de um estímulo visual, como a imagem cinematográfica, faz jorrar maravilhas sonoras.  O que a imagem pede em ambientação, comentário ou estimulação sonora.  Mas também procurando sempre criar algo novo, ou distinto do já feito, evitando o pedido sempre fácil da repetição do que agradou, deu certo.  Não, mesmo trilhas sentidas como espetaculares por quem quer que as ouça podem ser consideradas insatisfatórias por ele ou inferiores ao que queria fazer.  Às vezes, o tema que a ele parecia mais banal é o que mais arrebata na tela.

 




A música extrapola a tela, permanece fabulosa fora dela, alcança vida própria e embala momentos importantes da nossa existência.  Basta citar algumas dessas trilhas para que todos se lembrem do que elas significam: “A Missão”, “Era uma Vez na América”, “Era uma Vez no Oeste”, “Os Intocáveis”, “Por um Punhado de Dólares”, “Três Homens em Conflito”, “A Lenda do Pianista do Mar”. “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita”, “A Batalha de Argel”, “Os Oito Odiados”, que ganhou um Oscar, por sinal, tardio.  Bem, é uma lista interminável.

 

A entrevista de Ennio Morricone vai recheada de fragmentos dos filmes e comentários de um bom número de realizadores cinematográficos, que ajudam a esclarecer o papel de Morricone, absolutamente central nos filmes em que atuou como autor e responsável pela música do filme.  Vai do amigo Sérgio Leone a Pasolini, Bellochio, Bertolucci, Dario Argento, Wong-Kar Wai, Brian De Palma, Tarantino e muitos mais.  Grande parte desses realizadores, atores e outros músicos dão seus depoimentos, bem editados, no filme.  Dá também para ver e ouvir Joan Baez, absolutamente brilhante cantando Morricone, além de outros cantores e corais.  É emocionante.  Encanta, ao longo dos 150 minutos da projeção, sem jamais cansar.

 

É que, associado ao grande talento do compositor e maestro celebrado no filme, está o cineasta de mão cheia Giuseppe Tornatore, que sabe o que faz e onde quer chegar.  Constrói um belíssimo documentário que faz jus à música grandiosa de Ennio Morricone.




Um comentário:

  1. Olá, Egypto. Pela sua excelente critica, não poderemos perder esse documentário. Muito grata.

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