Antonio Carlos Egypto
ILUSÕES PERDIDAS (Illusions Perdues). França,
2021. Direção: Xavier Giannoli. Elenco: Benjamin Voisin, Cécile de France,
Vincent Lacoste, Salomé Dewaels, Xavier Dolan, Gérard Depardieu. 149 min.
O filme “Ilusões Perdidas”, dirigido por Xavier Giannoli, adaptando importante romance de Honoré de Balzac (1799-1850),
é uma bela produção cinematográfica em estilo de cinemão clássico. Tem uma reconstituição de época caprichadíssima,
bela fotografia, um elenco de primeira e uma história portentosa de Balzac, que
fala muito aos dias atuais, embora se refira ao século XIX.
Balzac, um dos maiores escritores
franceses, é conhecido por retratar a sociedade francesa de sua época, nos seus
vários aspectos. Como o contraste entre
a vida na província e em Paris, os jogos de poder, intriga e falsidades da
aristocracia, da monarquia e dos que ostentam o que não têm. O destaque que o filme imprime é para o mundo
das letras e, especialmente, do jornalismo, de importância crescente em termos
de força política, com os avanços das técnicas de impressão e reprodução. E é principalmente aí que o tema respira
atualidade.
Num mundo onde absolutamente tudo se
compra e se vende, os jornais podem elevar ou destruir obras literárias, peças
de teatro, reputações de membros de destaque da sociedade. Tudo depende de quem paga, ou de quem paga
mais. O dinheiro, o lucro, é o que conta
o tempo todo. Consequentemente, o que se
publica, desde fatos a opiniões e críticas de arte, é frequentemente uma
completa mentira, a ponto de as críticas serem feitas sem a leitura dos livros
supostamente analisados. Inventa-se,
utilizando recursos estilísticos de linguagem: frases de efeito, mordazes,
destruidoras, ou valorizadoras de mediocridades, como se fossem grandes obras
de arte. O que é isso senão mentiras, o
que hoje chamamos fake news
e que tanto nos incomodam?
Essas mentiras, na época e hoje, existem
para atender interesses. E esses
interesses podem ser regiamente pagos, tudo depende do mercado de
notícias. Essa expressão nos remete ao
ótimo filme de Jorge Furtado, que tem esse título e fala justamente da produção
e venda, com todos os interesses envolvidos, sendo regulados pelo mercado, pela
oferta e procura. Nada a ver com ideais
de cidadania, busca da verdade, projetos sociais e políticos.
“Ilusões Perdidas” trabalha essas
questões a partir da história pessoal de Lucien de Rubempré (Benjamin Voisin),
que deixa sua província em que trabalhava numa gráfica e tinha,
surpreendentemente, como amante a aristocrática Louise de Bargeton (Cécile de
France). Como poeta, ele espera alcançar
sucesso, ser publicado e reconhecido em Paris.
Mas lá ele encontrará a realidade da imprensa cínica e movida pelo dinheiro,
pelas mãos de Etienne Lousteau (Vincent Lacoste), percebe quem é o grande
editor de literatura Dauriat (Gérard Depardieu), e entra no jogo, o que inclui
seu amor, a atriz Coralie (Salomé Dewaels), uma relação de amizade e coleguismo
literários bem ambígua, na figura de Nathan (Xavier Dolan), entre outros novos
vínculos.
Como Lucien descobre o caminho das
pedras, a ambição o leva a cruzar para o lado oposto ao da imprensa de oposição
à monarquia, em busca de um título de nobreza, e aí sua vida vai se complicar
bastante. Ou seja, as ilusões se
mostrarão com toda a clareza.
Enfim, a história é rica em detalhes e
situações, que o filme consegue mostrar de modo muito claro, embalado por uma
trilha sonora de música clássica de excelente qualidade. O que é mais um refresco que torna a sessão
cinematográfica especialmente agradável de ser curtida. Um filme rico, importante, que tem muito a
nos dizer hoje, numa embalagem sob todos os aspectos atraente
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