sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS

Antonio Carlos Egypto

 

 



A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS (Lunana: A Yak in the Classroom).  Butão, 2019.  Direção: Pawo Choyning Dorji.  Elenco: Sherab Dorji, Kelden Lhamo, Sonam Tashi Choden, Pem Zam, Tshering Dorji.  110 min.

 

O pequeno Butão, nos Himalaias, país que faz fronteira com a China e a Índia, próximo do Nepal e de Bangladesh, no sul da Ásia, conta com cerca de 770 mil habitantes.  Sua capital, Timbu, concentra cerca de 114 mil pessoas.  É o país que inovou ao criar a FIB, Felicidade Interna Bruta, para medir o nível de desenvolvimento pelo nível de felicidade da população, em lugar do PIB, o Produto Interno Bruto, como costuma-se fazer em todo o mundo.  Talvez por isso, o título em português do filme butanês tenha se chamado aqui “A Felicidade das Pequenas Coisas”, pois o título original traduzido seria Lunana: um iaque na sala de aula, um título que soaria no mínimo estranho para nós.

 

Pois bem, esse filme passou pelos filtros do Oscar e está entre os cinco finalistas na disputa pelo melhor filme internacional, coisa que o Brasil não consegue há muito tempo.  Os demais concorrentes são da Itália, da Dinamarca, da Noruega e do Japão.  Um feito e tanto para o pequeno Butão.

 

Fui ver o filme e concordei plenamente com sua indicação.  É um trabalho bonito, sensível, e lida com as diferenças culturais com muito respeito e atenção.  Além disso, tem bons desempenhos de elenco e locações espetaculares nas montanhas do país, que chegam a alcançar 7 mil metros de altura em picos nevados permanentes.

 

A narrativa aborda um jovem professor, de vinte e poucos anos, desinteressado do magistério, em busca de uma carreira de cantor na Austrália.  Enquanto espera por isso, ele vai lecionar na mais remota escola pública do Butão, no alto de montanhas, em que são necessários oito dias de caminhada para ser alcançada, após a localidade mais próxima servida por ônibus.  Encontra lá não só a falta dos recursos a que está habituado, como um estilo de vida que em nada se equipara à cidade de Timbu, onde ele vive.  Na verdade, essa escola seria a mais remota, não só do Butão, mas do mundo.




Lá, a riqueza se resume aos iaques, uma espécie de boi domesticável.  Seu estrume serve aos mais diversos usos.  Daí a ideia de ter um iaque ao lado do professor e dos alunos, em plena sala de aula, como está no título do filme.  Lunana é essa localidade remota, onde vive uma dezena de pessoas, pastores de iaques, que valoriza muito a educação, porque, segundo eles, “o professor toca o futuro”.

 

Conhecer e conviver com essa realidade rural tão pobre e distante, incrustada numa natureza exuberante, com pessoas acolhedoras, em uma cultura que celebra e canta a vida, em que pesem todas as enormes dificuldades, é uma experiência enriquecedora que o cinema pode nos proporcionar. Como proporcionou ao protagonista da história.

 

O reino do Butão, uma pequena monarquia constitucional budista, que valoriza a felicidade acima de tudo, nos mostra um belo exemplo da capacidade de adaptação e da resiliência de que é capaz a humanidade, nos mais distantes rincões do planeta.




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário