Antonio Carlos Egypto
O documentário holandês LIDANDO COM A MORTE, dirigido por Paul
Sin Nam Rigter, 74 minutos, registra os planos para a construção de uma agência
funerária, num bairro multiétnico de Amsterdã.
A intenção da gerente contratada para conceber o projeto, Anita, é a de
atender aos diferentes grupos culturais, que utilizam rituais distintos para
tratar da morte. Um dos grupos só
concebe um funeral com, pelo menos, 500 pessoas, o que exige um amplo
espaço. Uma mulher, falando em nome do
seu grupo, lembra que as suas mulheres usam muitas roupas, o que exige um
banheiro maior do que os de costume. Há
os banhos, os cantos, batuques, danças, comidas típicas e o modo de servi-las
nos rituais de morte. É interessante
conhecer isso e o filme dá a oportunidade para percebermos a grande diversidade
de conceitos a respeito dos funerais, nas diferentes culturas e religiões. Ainda que estejamos falando só de Amsterdã,
ou melhor, de um dos bairros da cidade.
Por outro lado, o projeto enfrentará
dificuldades, porque interesses econômicos sempre falam mais alto e um plano
com esses cuidados antropológicos esbarra nas questões mercadológicas. O documentário participa da Competição de
Novos Diretores da Mostra 45.
ARMUGAN.
Espanha. Direção: Jo Sol. Com Gonzalo Cunill, Iñigo Martinez, Núria
Lloansi, Núria Prime. 91 min.
“Armugan” é um personagem mítico dos
Pirineus Aragoneses, na Espanha, um portador de deficiências físicas que demandam
que ele viva agarrado ao corpo de seu servo Anchel, que o trata com toda a
atenção e desvelo. Eles também vivem
lidando com a morte, à semelhança do documentário que acabei de comentar.
A morte é um mistério e tem tantas
vicissitudes que há infinitas maneiras de se acercar a ela. Há, também, muitas expectativas e
necessidades que as pessoas têm em relação à sua própria morte ou à de parentes
próximos, alguns no ocaso da vida em termos de idade, outros, em plena juventude. Seja como for, Armugan é mostrado pelo filme
de Jo Sol como uma espécie de anjo da morte.
O filme explora sua existência para lá de modesta, em uma casa simples
na zona rural, cercada pelas montanhas e pelas ovelhas com quem ele convive ao
rés do chão.
O ambiente mágico das montanhas ganha
dimensões belas, mas também lúgubres, na fotografia em preto e branco que
acentua o mistério do personagem. A
filmagem remete a algo passado, distanciado do nosso cotidiano. No entanto, a vida urbana e o luxo da cidade
irrompem na trama como uma urgência. A
refinada civilização busca a ajuda de Armugan na hora de dor, com toda a
tecnologia de hoje.
Assim, em “Armugan”, revisita-se o
mito, a fábula, relacionando-os a discussões atuais sobre a questão da
morte. Como se pode ver, lidar com a
morte não é mesmo fácil, em qualquer sentido que se queira dar e para muitos o
tema até mesmo produz uma rejeição, ao menos, num primeiro momento. Nessa pandemia, tivemos que falar sobre ela,
nos informar, coletar dados, conviver com as perdas que ela traz e isso
extenuou as pessoas. A ficção, porém,
também pode nos ajudar a lidar com a morte, da finitude natural da vida aos
mistérios e surpresas que ela costuma carregar consigo.
@mostrasp
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