sábado, 16 de outubro de 2021

A MORTE EM 2 FILMES DA # 45 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 


 

O documentário holandês LIDANDO COM A MORTE, dirigido por Paul Sin Nam Rigter, 74 minutos, registra os planos para a construção de uma agência funerária, num bairro multiétnico de Amsterdã.  A intenção da gerente contratada para conceber o projeto, Anita, é a de atender aos diferentes grupos culturais, que utilizam rituais distintos para tratar da morte.  Um dos grupos só concebe um funeral com, pelo menos, 500 pessoas, o que exige um amplo espaço.  Uma mulher, falando em nome do seu grupo, lembra que as suas mulheres usam muitas roupas, o que exige um banheiro maior do que os de costume.  Há os banhos, os cantos, batuques, danças, comidas típicas e o modo de servi-las nos rituais de morte.  É interessante conhecer isso e o filme dá a oportunidade para percebermos a grande diversidade de conceitos a respeito dos funerais, nas diferentes culturas e religiões.  Ainda que estejamos falando só de Amsterdã, ou melhor, de um dos bairros da cidade.

 

Por outro lado, o projeto enfrentará dificuldades, porque interesses econômicos sempre falam mais alto e um plano com esses cuidados antropológicos esbarra nas questões mercadológicas.  O documentário participa da Competição de Novos Diretores da Mostra 45.

 

 


ARMUGAN.  Espanha.  Direção: Jo Sol.  Com Gonzalo Cunill, Iñigo Martinez, Núria Lloansi, Núria Prime.  91 min.

 

“Armugan” é um personagem mítico dos Pirineus Aragoneses, na Espanha, um portador de deficiências físicas que demandam que ele viva agarrado ao corpo de seu servo Anchel, que o trata com toda a atenção e desvelo.  Eles também vivem lidando com a morte, à semelhança do documentário que acabei de comentar.

 

A morte é um mistério e tem tantas vicissitudes que há infinitas maneiras de se acercar a ela.  Há, também, muitas expectativas e necessidades que as pessoas têm em relação à sua própria morte ou à de parentes próximos, alguns no ocaso da vida em termos de idade, outros, em plena juventude.  Seja como for, Armugan é mostrado pelo filme de Jo Sol como uma espécie de anjo da morte.  O filme explora sua existência para lá de modesta, em uma casa simples na zona rural, cercada pelas montanhas e pelas ovelhas com quem ele convive ao rés do chão.

 

O ambiente mágico das montanhas ganha dimensões belas, mas também lúgubres, na fotografia em preto e branco que acentua o mistério do personagem.  A filmagem remete a algo passado, distanciado do nosso cotidiano.  No entanto, a vida urbana e o luxo da cidade irrompem na trama como uma urgência.  A refinada civilização busca a ajuda de Armugan na hora de dor, com toda a tecnologia de hoje.

 

Assim, em “Armugan”, revisita-se o mito, a fábula, relacionando-os a discussões atuais sobre a questão da morte.  Como se pode ver, lidar com a morte não é mesmo fácil, em qualquer sentido que se queira dar e para muitos o tema até mesmo produz uma rejeição, ao menos, num primeiro momento.  Nessa pandemia, tivemos que falar sobre ela, nos informar, coletar dados, conviver com as perdas que ela traz e isso extenuou as pessoas.  A ficção, porém, também pode nos ajudar a lidar com a morte, da finitude natural da vida aos mistérios e surpresas que ela costuma carregar consigo.

@mostrasp

 


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