quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O MATEMÁTICO

Antonio Carlos Egypto

 

 



O MATEMÁTICO (Adventures of a Mathematician).  Alemanha/Polônia, 2020.  Direção e roteiro: Thorsten Klein.  Com Philippe Tlokinski, Esther Garrel, Fabian Kocieck, Sam Keely, Joel Basman.  102 min.

 

 

“O Matemático” é uma biografia cinematográfica de Stanislaw (ou, simplesmente, Stan) Ulam (1909-1984), um gênio da matemática, ligado à construção da bomba H e à concepção do primeiro computador.  Foi colaborador do físico Edward Teller (1908-2003) e com ele chegou ao desenho Teller-Ulam, que possibilitou a criação da bomba atômica de hidrogênio.  Ao lado do físico Johnny von Newmann (1903-1957), trabalhou no projeto Manhattan, durante a Segunda Guerra Mundial, sob coordenação de Robert Oppenheimer (1904-1967).  O projeto tratava de conquistar a bomba antes de que Hitler o fizesse e foi em busca desses cálculos que eles possibilitaram o advento do mundo digital dos computadores.

 

Uma figura histórica muito interessante de ser abordada pelo cinema, certamente.  O diretor e roteirista alemão Thorsten Klein adaptou o livro autobiográfico de Stan Ulam, judeu polonês que foi para os Estados Unidos ainda nos anos 1930 e estava em Cambridge, em 1942, quando recebeu o convite de Johnny von Newmann para participar do projeto Manhattan, ultrassecreto, que se desenvolvia em Los Álamos, no Novo México.

 

Com a irmã vivendo a guerra na Polônia, invadida pelos nazistas, e o irmão menor ficando para trás, Stan se dedicou àquilo que seria decisivo para a vitória norte-americana sobre os japoneses, os estudos para a criação das bombas que explodiram em Hiroshima e Nagasaki.  E foi um dos responsáveis pelo poder de destruição da própria humanidade que esses artefatos são capazes de produzir.  Isso aconteceu mesmo após a vitória soviética sobre os nazistas e também prosseguiu após a vitória completa no conflito mundial.  Ou seja, o matemático, depois de um interregno decorrente de uma inflamação cerebral, que exigiu abrir um buraco na sua cabeça,  recuperou-se e acabou voltando àquelas pesquisas.

 



A sua vida foi cheia de questões dramáticas, como essa. Teve um casamento conturbado e a maior de todas: o sentimento de culpa que, de um modo ou de outro, atingiu fortemente todos os cientistas que participaram dessas descobertas.  Dizia-se, também, que Stan Ulam era extrovertido, piadista, aficionado pelo estudo estatístico dos jogos, inclusive o do baralho.  Uma personalidade multifacetada e exuberante.

 

Infelizmente, não é o que se vê no filme “O Matemático”.  O desempenho do ator principal, Philippe Tlokinski, não dá conta desse manancial emocional.  A direção é muito burocrática, não consegue nos passar as emoções que certamente o contexto exige.  Aquilo que poderia ser uma história empolgante fica de uma platitude pouco atraente.  O filme vai contando a sua história linearmente, fazendo alguns cortes que deixam de acentuar aspectos relevantes e nunca alcança o envolvimento emocional indispensável.

 

Perde-se, assim, a oportunidade de explorar melhor uma boa história e um biografado muito importante, tanto no campo das ciências exatas quanto no da História.  Quando faltam as emoções, tudo fica meio opaco, ainda que seja muito bem intencionado, como é o caso de “O Matemático”.

 

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