Antonio Carlos Egypto
O MATEMÁTICO (Adventures of a Mathematician).
Alemanha/Polônia, 2020. Direção e
roteiro: Thorsten Klein. Com
Philippe Tlokinski, Esther Garrel, Fabian Kocieck, Sam Keely, Joel Basman. 102
min.
“O Matemático” é uma biografia
cinematográfica de Stanislaw (ou, simplesmente, Stan) Ulam (1909-1984), um
gênio da matemática, ligado à construção da bomba H e à concepção do primeiro
computador. Foi colaborador do físico
Edward Teller (1908-2003) e com ele chegou ao desenho Teller-Ulam, que
possibilitou a criação da bomba atômica de hidrogênio. Ao lado do físico Johnny von Newmann
(1903-1957), trabalhou no projeto Manhattan, durante a Segunda Guerra Mundial,
sob coordenação de Robert Oppenheimer (1904-1967). O projeto tratava de conquistar a bomba antes
de que Hitler o fizesse e foi em busca desses cálculos que eles possibilitaram
o advento do mundo digital dos computadores.
Uma figura histórica muito
interessante de ser abordada pelo cinema, certamente. O diretor e roteirista alemão Thorsten Klein
adaptou o livro autobiográfico de Stan Ulam, judeu polonês que foi para os
Estados Unidos ainda nos anos 1930 e estava em Cambridge, em 1942, quando
recebeu o convite de Johnny von Newmann para participar do projeto Manhattan,
ultrassecreto, que se desenvolvia em Los Álamos, no Novo México.
Com a irmã vivendo a guerra na
Polônia, invadida pelos nazistas, e o irmão menor ficando para trás, Stan se dedicou
àquilo que seria decisivo para a vitória norte-americana sobre os japoneses, os
estudos para a criação das bombas que explodiram em Hiroshima e Nagasaki. E foi um dos responsáveis pelo poder de
destruição da própria humanidade que esses artefatos são capazes de
produzir. Isso aconteceu mesmo após a
vitória soviética sobre os nazistas e também prosseguiu após a vitória completa
no conflito mundial. Ou seja, o
matemático, depois de um interregno decorrente de uma inflamação cerebral, que
exigiu abrir um buraco na sua cabeça, recuperou-se
e acabou voltando àquelas pesquisas.
A sua vida foi cheia de questões
dramáticas, como essa. Teve um casamento conturbado e a maior de todas: o
sentimento de culpa que, de um modo ou de outro, atingiu fortemente todos os
cientistas que participaram dessas descobertas.
Dizia-se, também, que Stan Ulam era extrovertido, piadista, aficionado
pelo estudo estatístico dos jogos, inclusive o do baralho. Uma personalidade multifacetada e exuberante.
Infelizmente, não é o que se vê no
filme “O Matemático”. O desempenho do
ator principal, Philippe Tlokinski, não dá conta desse manancial
emocional. A direção é muito
burocrática, não consegue nos passar as emoções que certamente o contexto
exige. Aquilo que poderia ser uma história
empolgante fica de uma platitude pouco atraente. O filme vai contando a sua história
linearmente, fazendo alguns cortes que deixam de acentuar aspectos relevantes e
nunca alcança o envolvimento emocional indispensável.
Perde-se, assim, a oportunidade de
explorar melhor uma boa história e um biografado muito importante, tanto no
campo das ciências exatas quanto no da História. Quando faltam as emoções, tudo fica meio
opaco, ainda que seja muito bem intencionado, como é o caso de “O Matemático”.
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