segunda-feira, 10 de maio de 2021

DRUK

Antonio Carlos Egypto

 

 


DRUK – MAIS UMA RODADA (Druk).  Dinamarca, 2020.  Direção: Thomas Vinterberg. Com: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Maria Bonnevie, Magnus Milang, Lars Ranthe.  117 min.

 

 

Todos nós temos experiência com a bebida alcoólica, de um modo ou de outro.  De forma frequente, eventual, compulsiva ou como abstêmios, por curtos ou longos períodos da vida, ou mesmo pela vida toda.  É sabido que o álcool é uma droga perigosa, geralmente lícita, que pode levar a uma dependência altamente destrutiva, demolidora, para a vida do indivíduo e daqueles que com ele convivem.  Sabemos também das possíveis consequências do uso do álcool quando combinado com a direção de veículos, com a utilização de máquinas e equipamentos e com a disciplina do trabalho.

 

Conhecemos, no entanto, igualmente, os seus benefícios, quando consumido de forma moderada e equilibrada ou em momentos que levam a uma maior descontração ou informalidade, reduzindo um nível alto de ansiedade, além de seu papel considerado indispensável em datas festivas, comemorações, eventos.

 

Como acontece com as drogas psicoativas, depende da finalidade, do tipo de uso, da dosagem, do ritual e do contexto social/legal envolvidos.  A mesma substância que pode curar pode matar.

 

Pois bem, o filme “Druk”, do talentoso diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, aborda o tema da bebida alcoólica, levando essas coisas em conta, mas utilizando uma história curiosamente inovadora, que dá margem ao drama e à comédia.  Por incrível que possa parecer, sempre com leveza. Num estilo cativante de filmar, bem humorado, feérico, com estranheza e seriedade. Tudo junto e misturado.  Acrescente-se a isso belos planos, sequências com muito ritmo, enquadramentos magníficos e um elenco de primeiríssima, capitaneado pelo grande ator Mads Mikkelsen que, quem acompanha o cinema nórdico, certamente conhece de vários filmes de destaque.

 


“Druk” venceu o Oscar 2021 de melhor filme internacional, um prêmio merecidíssimo.  Thomas Vinterberg demonstra nesse filme o amadurecimento e a sofisticação de um trabalho sempre marcado pela qualidade e pela capacidade de gerar uma reflexão aberta e crítica, que contempla as várias visões de um tema.

 

É notável que, quando abordou o abuso sexual, ele nos deu “Festa de Família”, de 1998, mostrando o estrago que isso produz na família, enquanto que, em “A Caça”, de 2012, o mesmo tema é mostrado pelo lado do julgamento apressado e injusto, do linchamento moral que acaba com a vida de alguém inocente.

 

Em “Druk”, quatro professores, que lidam com crianças e adolescentes, sentindo-se um tanto desanimados e desestimulados com a vida diária, resolvem fazer um experimento com o uso de bebidas alcoólicas diariamente, para dar um up grade no seu cotidiano.  Partiram de um estudo nórdico que afirmava que todos temos um déficit de álcool no sangue, que, desde que reposto diariamente, tornaria a existência mais produtiva, mais prazerosa e mais divertida.  Mas isso para uso no horário normal, de trabalho, durante o dia, não à noite e nem nos fins-de-semana.  Experimentar, observar e medir os benefícios e, a partir daí, testar novas e maiores dosagens, foi o que eles se propuseram a fazer.  O problema é até que ponto é possível manter o controle e os riscos que se quer correr. Disso trata a história, muito bem contada, de “Druk”, na vida dos quatro personagens principais, seus trabalhos, amores e relacionamentos.  E da amizade que se desenvolve entre eles. O filme não está interessado em pregar nada, não moraliza, não apoia ou condena.  Mostra o processo.  E a gente se diverte.  Muito.



4 comentários: