sábado, 10 de abril de 2021

CULTURA EM DOCS BRASILEIROS

     Antonio Carlos Egypto


A realização de documentários no Brasil tem sido fértil em mostrar aspectos relevantes da nossa produção cultural, com ênfase na música.  A música brasileira é reconhecidamente um passaporte valorizado do país e já há muito tempo.  E a literatura, o teatro, a dança, as artes plásticas e o próprio cinema também têm sido objeto de registro e é inegável a importância histórica dessa documentação.

No festival internacional É TUDO VERDADE 2021 posso destacar aqui dois ótimos trabalhos que fazem importantes registros culturais.

 



MÁQUINA DO DESEJO – os 60 anos do teatro Oficina, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro, 120 min, faz uma homenagem ao trabalho importantíssimo do Oficina e de seu líder, José Celso Martinez Corrêa.

 

O teatro Oficina é uma fonte permanente de criação, ousada e inovadora, em todos os aspectos do teatro.  No repertório sempre desafiador e dialogando de modo interativo e direto com a realidade.  No desempenho de atores e atrizes, constantemente transformado e de entrega visceral, chegando até a extremos, de tão radical.  Na encenação, na quebra do palco italiano, na revolução de cenários, no envolvimento com o público.  E ainda mais na própria concepção e estrutura física do teatro e sua relação com o ambiente externo.  Enfim, é a revolução completa e permanente o que esse grupo fez e faz, desde os anos 1960.

 

Teatro político e de resistência, que conviveu com 21 anos de ditadura militar, que gerou para eles perseguição, censura constante, prisões, tortura, exílio.  Se a arte é expressão de seu tempo, o Oficina levou isso ao seu sentido máximo.  Portanto, é importante celebrar todas essas coisas.  Só que essa história é longa e complexa, comportando muitos elementos.

 

Neste documentário MÁQUINA DO DESEJO, essa trajetória está bem contada, acompanha as grandes montagens que foram transformadoras do teatro brasileiro e as ações que se desenvolveram paralelamente, na medida do possível, e sem perder muito tempo em casa coisa.  O fato de o grupo Oficina ter registro audiovisual do seu trabalho, ao longo do tempo, facilitou muito isso.  A rigor, pode-se dizer que nada de importante se perdeu.  Numa visão panorâmica e sintética, é claro. 

 




PAULO CÉSAR PINHEIRO – LETRA E ALMA, de Cleisson Vidal e Andrea Prates, 85 min, teve a feliz ideia de homenagear um dos mais importantes poetas e letristas da música popular brasileira, de quem todos conhecem dezenas de músicas, mas alguns talvez não associem o nome à pessoa.

 

O documentário registra a fala de Paulo César Pinheiro, confortavelmente instalado no sofá de casa, refazendo sua longa e variadíssima trajetória como compositor, que tem início aos 13 anos de idade e alcança uma qualidade incontestável, exibindo além disso uma produção quantitativa imensa.  Praticamente, todos os grandes intérpretes da MPB tiveram a oportunidade de gravar músicas dele.  Elis Regina, Clara Nunes (que foi sua esposa), Elizete Cardoso, Marisa Gata Mansa, Simone, Maria Bethânia, Mônica Salmazo, Quarteto em Cy, MPB4 e João Nogueira, que está entre seus muitos parceiros.  Vamos lembrar de João Aquino, Baden Powell, Pixinguinha, Maurício Tapajós, Edu Lobo, Francis Hime, Dori Caymmi, Ivan Lins, Tom Jobim, Eduardo Gudin, Mauro Duarte, Guinga, Wilson das Neves, Raphael Rabello e sua mulher Luciana Rabello, entre tantos outros.

 

No filme, a fala de Paulo César Pinheiro é fluente, inteligente, coloquial e até divertida.  Prende a atenção.  É entremeada por algumas de suas canções de sucesso, entre as milhares que criou. Uma obra tão vasta que é muito importante lembrar e saudar.  Um brasileiro como poucos, que nos enche de orgulho.  E que teve na música sua única profissão e, durante toda sua vida, sempre viveu dela.

www.etudoverdade.com.br

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário