Antonio Carlos Egypto
A realização de documentários no Brasil tem sido fértil em mostrar aspectos relevantes da nossa produção cultural, com ênfase na música. A música brasileira é reconhecidamente um passaporte valorizado do país e já há muito tempo. E a literatura, o teatro, a dança, as artes plásticas e o próprio cinema também têm sido objeto de registro e é inegável a importância histórica dessa documentação.
No festival internacional É TUDO
VERDADE 2021 posso destacar aqui dois ótimos trabalhos que fazem importantes
registros culturais.
MÁQUINA DO DESEJO – os 60 anos do teatro Oficina, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro, 120 min, faz uma homenagem ao trabalho importantíssimo do Oficina e de seu líder, José Celso Martinez Corrêa.
O teatro Oficina é uma fonte
permanente de criação, ousada e inovadora, em todos os aspectos do teatro. No repertório sempre desafiador e dialogando
de modo interativo e direto com a realidade.
No desempenho de atores e atrizes, constantemente transformado e de
entrega visceral, chegando até a extremos, de tão radical. Na encenação, na quebra do palco italiano, na
revolução de cenários, no envolvimento com o público. E ainda mais na própria concepção e estrutura
física do teatro e sua relação com o ambiente externo. Enfim, é a revolução completa e permanente o
que esse grupo fez e faz, desde os anos 1960.
Teatro político e de resistência, que
conviveu com 21 anos de ditadura militar, que gerou para eles perseguição,
censura constante, prisões, tortura, exílio.
Se a arte é expressão de seu tempo, o Oficina levou isso ao seu sentido
máximo. Portanto, é importante celebrar
todas essas coisas. Só que essa história
é longa e complexa, comportando muitos elementos.
Neste documentário MÁQUINA DO DESEJO,
essa trajetória está bem contada, acompanha as grandes montagens que foram
transformadoras do teatro brasileiro e as ações que se desenvolveram
paralelamente, na medida do possível, e sem perder muito tempo em casa
coisa. O fato de o grupo Oficina ter
registro audiovisual do seu trabalho, ao longo do tempo, facilitou muito
isso. A rigor, pode-se dizer que nada de
importante se perdeu. Numa visão
panorâmica e sintética, é claro.
PAULO
CÉSAR PINHEIRO – LETRA E ALMA,
de Cleisson Vidal e Andrea Prates, 85 min, teve a feliz ideia de homenagear um
dos mais importantes poetas e letristas da música popular brasileira, de quem
todos conhecem dezenas de músicas, mas alguns talvez não associem o nome à
pessoa.
O documentário registra a fala de
Paulo César Pinheiro, confortavelmente instalado no sofá de casa, refazendo sua
longa e variadíssima trajetória como compositor, que tem início aos 13 anos de
idade e alcança uma qualidade incontestável, exibindo além disso uma produção
quantitativa imensa. Praticamente, todos
os grandes intérpretes da MPB tiveram a oportunidade de gravar músicas
dele. Elis Regina, Clara Nunes (que foi
sua esposa), Elizete Cardoso, Marisa Gata Mansa, Simone, Maria Bethânia, Mônica
Salmazo, Quarteto em Cy, MPB4 e João Nogueira, que está entre seus muitos
parceiros. Vamos lembrar de João Aquino,
Baden Powell, Pixinguinha, Maurício Tapajós, Edu Lobo, Francis Hime, Dori Caymmi,
Ivan Lins, Tom Jobim, Eduardo Gudin, Mauro Duarte, Guinga, Wilson das Neves,
Raphael Rabello e sua mulher Luciana Rabello, entre tantos outros.
No filme, a fala de Paulo César Pinheiro é fluente, inteligente, coloquial e até divertida. Prende a atenção. É entremeada por algumas de suas canções de sucesso, entre as milhares que criou. Uma obra tão vasta que é muito importante lembrar e saudar. Um brasileiro como poucos, que nos enche de orgulho. E que teve na música sua única profissão e, durante toda sua vida, sempre viveu dela.
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