quinta-feira, 1 de outubro de 2020

CINEMA...EM CASA (3)

                              Antonio Carlos Egypto                                

 

Vou preenchendo este longo período de permanência em casa, em função da pandemia, que se alonga muito por conta da condução incompetente com que ela tem sido gerida, as idas e vindas, os desencontros, a irresponsabilidade governamental.  Podiam ter evitado a perda de muitas dessas vidas, ter feito um  lockdown  para valer por um período definido, sem concessões, e o resultado teria sido outro.  Enfim, restou a cada um fazer a sua parte, na medida de suas possibilidades.   Enquanto o quadro trágico se desenrolava, de vez em quando era preciso desligar o noticiário e rir um pouco.


 

Dino Risi


Nesse sentido, foi providencial o lançamento recente de uma caixa de DVDs da Versátil Home Vídeo, chamado de “Obras Primas da Comédia”, com 6 filmes italianos do gênero restaurados, realizados na década de 1960. 

 

Como sabemos, esse período foi especialmente brilhante para o cinema italiano, que revolucionou as telas do pós-Segunda Guerra Mundial com o neorrealismo.  E, ao lado do drama social, explorou o humor, os hábitos e costumes dos agrupamentos humanos das diferentes regiões italianas.  Com argúcia e perspicácia política nos levou a dar boas risadas, embalados por atores e atrizes espetaculares.  Nessa caixa é possível apreciar o trabalho de Vittorio Gassman, Alberto Sordi, Ugo Tognazzi, Nino Manfredi, Claudia Cardinale, Claire Bloom, Silvana Pampanini e outros.

 

O diretor mais presente na caixa, com 3 filmes, é Dino Risi (1916-2008), um dos pais da comédia italiana.  E o maior destaque, o filme “Os Monstros” (I Monstri), de 1963, uma sátira da sociedade italiana da época, dividida em vinte esquetes hilariantes, protagonizados por Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi, com participação também de Lando Buzzanca.

 


Vittorio Gassman


“Sua Excelência, o Trapaceiro” (Il Mattatore), de 1964, é outro grande trabalho de Risi, em que Gassman explora sua capacidade histriônica com maestria, aplicando todo tipo de golpe, dando vazão à sua versatilidade interpretativa.

 

Um pouco menos brilhante, “O Caradura” (Il Gaucho), também de 1964, de Risi, dá a Gassman novamente a oportunidade de explorar um talento cínico e pretensões golpistas, num festival de cinema em Buenos Aires.  Seu amigo italiano vivendo na Argentina dá a Nino Manfredi a oportunidade de compor um tipo, o do imigrante pobre, envergonhado do seu insucesso, que nos faz rir e pensar.

 

“O Magnífico Traído” (Il Magnifico Cornuto), de 1964, de Antonio Pietrangeli (1919-1968) é uma comédia inteligente que explora o onipresente tema do cornudo, mostrando como as diferenças de gênero pesam nessa questão. Ugo Tognazzi protagoniza com brilho um filme que tem Claudia Cardinale no auge da beleza.  É um filme marcante desse período da comédia italiana.

 


Alberto Sordi


Os dois outros filmes da caixa têm Alberto Sordi em estado de graça.  Em “O Professor de Vigevano” (Il Maestro di Vigevano), de 1963, ele encarna um professor de escola primária, todo sistemático, que encara com galhardia uma existência digna, mas pobre. Já a mulher, (Claire Bloom) não aguenta mais isso e o leva a ser empreendedor no ramo de calçados. Não seria novidade, já que a pequena cidade de Vigevano vive e respira a produção e venda de calçados com sucesso.  Mas para o professor não será tão fácil.  A começar pelas concessões que terá de fazer, a malandragem que ele não tem, e por aí vai.  O filme tem um interessante approach político, o que não surpreende, já que seu diretor Elio Petri (1929-1982) faria grandes filmes políticos, como “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1970) e “A Classe Operária Vai ao Paraíso” (1971), já num registro dramático. Mas foi muito bem na comédia, também.

 

O que foi aqui chamado de “Perdidos na África”, de 1968, tem um titulo original imenso: Riusciranno i nostri eroi a ritrovare l’amico misteriosamente scompasrso in Africa?  É o único filme colorido da caixa. Alberto Sordi faz um empresário que se mete numa aventura na África, com seu empregado de comportamento estranho, em busca do cunhado que sumiu e que aparecerá de inúmeras maneiras. O filme tem um tratamento que brinca com os clichês, tanto da África, quanto dos italianos, mas também combate preconceitos e atitudes autoritárias e arrogantes. A direção é de Ettore Scola (1931-2016), de grandes filmes, como “Nós que Nos Amamos Tanto” (1974), “Um Dia Muito Especial” (1977), “Casanova e a Revolução” (1982) e “O Baile” (1983).

 

Foi muito divertido revisitar a comédia italiana dos bons tempos, para relaxar e esquecer um pouco desse coronavirus tão onipresente.

                                                                                                                         


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