Antonio Carlos Egypto
Já está rolando em São Paulo o 18º. Festival
Indie de Cinema, que reúne a produção mundial autoral, experimental, e busca
inovações que se distinguem da produção comercial, dos grandes estúdios. Há, como sempre, filmes provocadores,
estranhos, inteligentes, inovadores no uso das câmeras. Nesse 18º.
ano a mostra está mais enxuta e mais curta. Como todo mundo sabe, a crise é brava. Mas é importante que a experiência não seja
interrompida. E o Cinesesc é o local
onde esse Festival está acontecendo. Um
dos melhores cinemas da cidade e que tem uma programação invejável, ao longo de
todo o ano. O SESC, a Zeta Filmes e a
Japan Foundation, são os promotores da presente edição do Indie, que vai até 19
de setembro.
Um belo filme, exibido na abertura do
Festival, é o japonês ASAKO I &II . Uma história de amor intensa e
inusitada. A Asako do título se apaixona
pelo jovem Baku, que é bonito e charmoso, mas instável e pouco confiável. Tanto que some, deixando interrompida a
relação. Asako segue sua vida e acaba
encontrando um outro jovem, Ryohei, com o mesmo rosto de Baku, e se apaixona
por ele. Esse é uma figura doce e
dedicada. Mas será por ele mesmo ou pela
imagem do antigo amor? Uma história de
dois amores, filmada num clima que revela a necessidade da honestidade nas
relações de amor e de amizade, com um humor delicado e sutil e uma protagonista
encantadora. Direção de Ryusuke
Hamaguchi, que em 2015 fez “Happy Hour”, um filme com mais de 5 horas de
duração. Este tem apenas 119
minutos. Que bom!
Por falar em longa duração dos filmes, esse
Indie está batendo recordes: o filme chinês “Um Elefante Sentado Quieto”, de Hu
Bo, tem 230 minutos de duração. O
argentino “La Flor”, de Mariano Llinás, tem nada menos do que 808 minutos, ou
seja, quase 14 horas de duração, a ser exibido em três partes, em dias
diferentes. Não vou me dar ao trabalho,
mas conheço gente que até já comprou os ingressos.
Uma vez mais, tem filme novo do importante
diretor filipino Lav Diaz, que costuma fazer filmes com 7 ou 9 horas de
duração. O atual pode até ser chamado de
curta – só tem 4 horas de duração.
Assisti a quase metade dele e desisti.
Não que o filme não fosse bem feito, não fosse atual e, mesmo, original:
uma ópera rock sobre a opressão do país na ditadura de Ferdinando Marcos. Mas as quase duas horas que eu vi poderiam
ser reduzidas facilmente à metade do tempo, sem perda de conteúdo nem de
clima. Então, para que esticar a corda
deste jeito? Só para tomar o tempo do
espectador? Para evitar uma edição
apropriada, buscando ser diferente? Para
tornar a comercialização mais difícil?
Essa tendência à longuíssima duração não me
atrai, não me parece, de modo algum, necessária ou apropriada. Não se trata de submeter-se aos tempos
comerciais, mas de buscar adequar a narrativa à realidade da vida das
pessoas. Quem é que pode passar tantas
horas no cinema, para ver dois ou três filmes?
E por que alongar tanto as sequências, se não há mais nada a mostrar ou
a acrescentar? Em alguns casos, uma
prolongada contemplação se justifica, mas isso virar tendência, moda, não faz
sentido. Ao menos para mim.
O Indie 2018 tem muitas atrações com tempo
menor, que merecem atenção. Vamos a
elas. E quem gostar de longuíssimos
filmes que desfrute. Confira aqui: www.indiefestival.com.br
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