sexta-feira, 14 de setembro de 2018

INDIE 18


Antonio Carlos Egypto




Já está rolando em São Paulo o 18º. Festival Indie de Cinema, que reúne a produção mundial autoral, experimental, e busca inovações que se distinguem da produção comercial, dos grandes estúdios.  Há, como sempre, filmes provocadores, estranhos, inteligentes, inovadores no uso das câmeras.  Nesse 18º.  ano a mostra está mais enxuta e mais curta.  Como todo mundo sabe, a crise é brava.  Mas é importante que a experiência não seja interrompida.  E o Cinesesc é o local onde esse Festival está acontecendo.  Um dos melhores cinemas da cidade e que tem uma programação invejável, ao longo de todo o ano.  O SESC, a Zeta Filmes e a Japan Foundation, são os promotores da presente edição do Indie, que vai até 19 de setembro.

Um belo filme, exibido na abertura do Festival, é o japonês  ASAKO I &II .  Uma história de amor intensa e inusitada.  A Asako do título se apaixona pelo jovem Baku, que é bonito e charmoso, mas instável e pouco confiável.  Tanto que some, deixando interrompida a relação.  Asako segue sua vida e acaba encontrando um outro jovem, Ryohei, com o mesmo rosto de Baku, e se apaixona por ele.  Esse é uma figura doce e dedicada.  Mas será por ele mesmo ou pela imagem do antigo amor?  Uma história de dois amores, filmada num clima que revela a necessidade da honestidade nas relações de amor e de amizade, com um humor delicado e sutil e uma protagonista encantadora.  Direção de Ryusuke Hamaguchi, que em 2015 fez “Happy Hour”, um filme com mais de 5 horas de duração.  Este tem apenas 119 minutos.  Que bom!




Por falar em longa duração dos filmes, esse Indie está batendo recordes: o filme chinês “Um Elefante Sentado Quieto”, de Hu Bo, tem 230 minutos de duração.  O argentino “La Flor”, de Mariano Llinás, tem nada menos do que 808 minutos, ou seja, quase 14 horas de duração, a ser exibido em três partes, em dias diferentes.  Não vou me dar ao trabalho, mas conheço gente que até já comprou os ingressos.

Uma vez mais, tem filme novo do importante diretor filipino Lav Diaz, que costuma fazer filmes com 7 ou 9 horas de duração.  O atual pode até ser chamado de curta – só tem 4 horas de duração.  Assisti a quase metade dele e desisti.  Não que o filme não fosse bem feito, não fosse atual e, mesmo, original: uma ópera rock sobre a opressão do país na ditadura de Ferdinando Marcos.  Mas as quase duas horas que eu vi poderiam ser reduzidas facilmente à metade do tempo, sem perda de conteúdo nem de clima.  Então, para que esticar a corda deste jeito?  Só para tomar o tempo do espectador?  Para evitar uma edição apropriada, buscando ser diferente?  Para tornar a comercialização mais difícil?

Essa tendência à longuíssima duração não me atrai, não me parece, de modo algum, necessária ou apropriada.  Não se trata de submeter-se aos tempos comerciais, mas de buscar adequar a narrativa à realidade da vida das pessoas.  Quem é que pode passar tantas horas no cinema, para ver dois ou três filmes?  E por que alongar tanto as sequências, se não há mais nada a mostrar ou a acrescentar?  Em alguns casos, uma prolongada contemplação se justifica, mas isso virar tendência, moda, não faz sentido.  Ao menos para mim.

O Indie 2018 tem muitas atrações com tempo menor, que merecem atenção.  Vamos a elas.  E quem gostar de longuíssimos filmes que desfrute.  Confira aqui:  www.indiefestival.com.br

  


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