Antonio Carlos
Egypto
HAFIS & MARA (Hafis & Mara).  Suíça,
2017.  Direção: Mano Khalil.
Documentário.  88 min.
O documentário “Hafis & Mara” foi o
escolhido para a abertura do 7º. Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, que
ocorre de 09 a 16 de maio, em São Paulo, no Cinesesc e Centro Cultural do Banco
do Brasil, a preços populares.  É uma
oportunidade para conferir a produção recente da Suíça em cinema, como já vem
acontecendo nos últimos anos, uma iniciativa importante para a difusão e
intercâmbio cultural entre a Suíça e o Brasil.
“Hafis & Mara” nos leva a conhecer Hafis
Bertschinger, um artista plástico suíço-libanês, de arte abstrata, que não
alcançou nem o sucesso nem o reconhecimento que tanto esperava.  Apesar de uma produção copiosa e constante e
muitas viagens pelo mundo, trata-se de um tipo de expressão artística que não
entusiasmou o público, ao longo dos anos. 
E que, no ocaso da vida, deixa um sabor amargo na boca e uma sensação de
frustração que abala o criador.
No entanto, Hafis encontrou uma mecenas, na
figura de Mara, esposa fiel, incentivadora e compradora das suas obras.  Uma pessoa introvertida, pouco expansiva,
cuidadosa com as palavras e que teve condições de bancar uma vida em comum com
Hafis, permitindo a ele dedicar-se a essa arte não comercial e lhe dando as
condições para viver uma vida nômade, impulsiva e livre, que muitas vezes a
magoou ou a atingiu dolorosamente.  Ao
cabo de muitos anos, ela relembra nostalgicamente esse caminho e se pergunta se
foi feliz.  E conclui que sim, apesar de
tudo.
Os conflitos do casal, expressos ou latentes,
vão aparecendo nas falas e ações de um e de outro e dos dois juntos.  A velhice, a proximidade da morte (que já
aconteceu para ela em 2017) trazem questões filosófico-existenciais
inevitáveis.  A vida valeu a pena ser
vivida?  E quando parece que basta, como
acabar com ela?  Como ressignificar as
experiências vividas?  O que fazer com
uma vasta produção artística encalhada, a essa altura inútil, que ocupa enormes
espaços?  
O filme possibilita um mergulho em duas vidas
que se complementaram, imperfeitamente, é verdade, mas que se revelam com muita
honestidade diante das câmeras.  Não sem
medos, hesitações, e com reduções de dissonância visíveis.  Gente que se pode conhecer por meio de
câmeras capazes de ouvir e registrar vivências, sentimentos, sensações.  Ou seja, uma investigação psicológica de
pessoas que envelhecem com muitas questões a desvendar, ainda. 
Os personagens não são figuras de destaque na
sociedade, no mundo da arte, ou que tenham se evidenciado de uma forma
clara.  Ao contrário, estiveram à sombra,
apesar da batalha pela luz ou por uma escolha circunstancial.  Por amor? 
Um documentário que ressalta as personalidades
e o relacionamento entre pessoas.  
Apenas gente.  É o bastante.

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