quarta-feira, 9 de maio de 2018

HAFIS & MARA


Antonio Carlos Egypto


HAFIS & MARA (Hafis & Mara).  Suíça, 2017.  Direção: Mano Khalil. Documentário.  88 min.

O documentário “Hafis & Mara” foi o escolhido para a abertura do 7º. Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, que ocorre de 09 a 16 de maio, em São Paulo, no Cinesesc e Centro Cultural do Banco do Brasil, a preços populares.  É uma oportunidade para conferir a produção recente da Suíça em cinema, como já vem acontecendo nos últimos anos, uma iniciativa importante para a difusão e intercâmbio cultural entre a Suíça e o Brasil.

“Hafis & Mara” nos leva a conhecer Hafis Bertschinger, um artista plástico suíço-libanês, de arte abstrata, que não alcançou nem o sucesso nem o reconhecimento que tanto esperava.  Apesar de uma produção copiosa e constante e muitas viagens pelo mundo, trata-se de um tipo de expressão artística que não entusiasmou o público, ao longo dos anos.  E que, no ocaso da vida, deixa um sabor amargo na boca e uma sensação de frustração que abala o criador.




No entanto, Hafis encontrou uma mecenas, na figura de Mara, esposa fiel, incentivadora e compradora das suas obras.  Uma pessoa introvertida, pouco expansiva, cuidadosa com as palavras e que teve condições de bancar uma vida em comum com Hafis, permitindo a ele dedicar-se a essa arte não comercial e lhe dando as condições para viver uma vida nômade, impulsiva e livre, que muitas vezes a magoou ou a atingiu dolorosamente.  Ao cabo de muitos anos, ela relembra nostalgicamente esse caminho e se pergunta se foi feliz.  E conclui que sim, apesar de tudo.

Os conflitos do casal, expressos ou latentes, vão aparecendo nas falas e ações de um e de outro e dos dois juntos.  A velhice, a proximidade da morte (que já aconteceu para ela em 2017) trazem questões filosófico-existenciais inevitáveis.  A vida valeu a pena ser vivida?  E quando parece que basta, como acabar com ela?  Como ressignificar as experiências vividas?  O que fazer com uma vasta produção artística encalhada, a essa altura inútil, que ocupa enormes espaços? 
O filme possibilita um mergulho em duas vidas que se complementaram, imperfeitamente, é verdade, mas que se revelam com muita honestidade diante das câmeras.  Não sem medos, hesitações, e com reduções de dissonância visíveis.  Gente que se pode conhecer por meio de câmeras capazes de ouvir e registrar vivências, sentimentos, sensações.  Ou seja, uma investigação psicológica de pessoas que envelhecem com muitas questões a desvendar, ainda.

Os personagens não são figuras de destaque na sociedade, no mundo da arte, ou que tenham se evidenciado de uma forma clara.  Ao contrário, estiveram à sombra, apesar da batalha pela luz ou por uma escolha circunstancial.  Por amor?

Um documentário que ressalta as personalidades e o relacionamento entre pessoas.   Apenas gente.  É o bastante.



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