Antonio Carlos
Egypto
COLO.
Portugal, 2017. Direção e
roteiro: Teresa Villaverde. Com João
Pedro Vaz. Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda, Clara Jost, Tomás
Gomes. 138 min.
A Revolução dos Cravos de abril de 1974 e a União
Europeia trouxeram novos ventos, novas esperanças e novas possibilidades reais
de avanço social, econômico e político a Portugal. Mas a crise bateu e trouxe desalento e
frustração ao mundo familiar da classe média lusitana.
As pessoas precisam de colo, mas quem há de poder
dar-lhes, em momentos de dureza e restrições, impostos por uma política de
austeridade, que lá, como cá no Brasil, produz desemprego, perda de direitos,
roubando sonhos dos jovens e deixando a todos exaustos?
“Colo”, da realizadora portuguesa Teresa Villaverde,
é um mergulho no microcosmos doméstico que se esfacela pelo desamparo e diante
da perda do direito à própria felicidade.
Quando o pai tem de viver um prolongado e
desesperador período de desemprego, a mulher tem de multiplicar seus trabalhos
para tentar suprir as necessidades da casa, enquanto a filha adolescente entra
na fase de rebeldia e contestação. Tudo
começa a desmoronar. Todos se
distanciam, uns dos outros, e vão perdendo a capacidade de entrar em empatia
com o que vive cada um. O filme mostra o
desgaste da família que produz uma incapacidade de reagir ao que quer que
seja. É destrutivo viver nesse desalento,
nessa ausência de afeto, nesse desencanto diante da vida.
Teresa Villaverde se debruça também, em paralelo, na
realidade próxima da adolescente e de seus amigos e de como eles enxergam a si
mesmos, a seus pais e o quanto estão perdidos, sem saber como ajudar a superar
a depressão dos pais.
O filme “Colo” é um contundente retrato do que
acontece às pessoas quando a crise econômica se impõe e a felicidade parece um
sonho distante. É um olhar para o
desamparo do ser humano. Um olhar
atento, preocupado, perplexo, não propriamente desesperançado, mas sem
respostas para o momento.
O filme apresenta uma fotografia com tonalidades
esmaecidas de cor. Nas filmagens
externas, sugere um fim de tarde algo cinzento e, nos espaços internos, utiliza
luz rebaixada, com ambientes escurecidos e até luzes de palco reduzidas por
filtros. Isso, associado ao ritmo lento
da evolução da narrativa e às performances contidas dos atores e atrizes, dá ao
espectador a sensação clara de abatimento, que permeia a vida dos personagens, independentemente de qualquer
diálogo.
Teresa Villaverde |
Teresa Villaverde é uma cineasta importante de uma
geração que se destaca a partir dos anos 1990, renova e dá novo vigor à
produção autoral do país. Representa,
também, uma leva crescente de mulheres atuando de forma intensa no cinema em
todo o mundo, o que tem enriquecido e trazido novas perspectivas para a sétima
arte.
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