Antonio Carlos
Egypto
GALERIA F.
Brasil, 2016. Direção: Emília
Silveira. Documentário. 87 min.
Num tempo em que a insanidade e a ignorância de
alguns pretende trazer de volta os militares ao poder, é muito importante não
esquecer o que foi o período de trevas da ditadura civil/militar brasileira
(1964-1985).
Muitas histórias já foram contadas pelo caminho
documental, outras foram recriadas pela via da ficção, mas ainda há muito a
desvendar. E a memória precisa ser
estimulada, refrescada, para que não nos esqueçamos do que vivemos e não
venhamos a cometer os mesmos erros. Os
mais jovens precisam se informar sobre o que aconteceu naquele período, para
poderem avaliar o que se passa hoje e para se posicionarem com clareza, já que
há muita confusão e desinformação no ar.
O documentário “Galeria F”, de Emília Silveira,
reconstrói uma história muito relevante do período: a do preso político baiano
Theodomiro Romero dos Santos, que desde os 14 anos de idade lutou combatendo a
ditadura. Entrou para a luta armada
atuando junto ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. Aos 18 anos, foi capturado, junto com outros
companheiros, e reagiu à prisão, matando um militar que tentava alvejar um dos
militantes detidos na rua.
Foi preso, sobreviveu às bárbaras torturas que sofreu
ao longo de 9 anos de prisão, até que veio a anistia, que não foi ampla, geral e
irrestrita, como se pretendia.
Classificado como terrorista, ficou de fora da anistia, foi mantido
preso, enquanto poucos permaneciam encarcerados, e foi ameaçado de morte. Mais do que isso, estava de fato condenado à
morte, o primeiro da história republicana.
A única alternativa seria fugir da prisão, o que, surpreendentemente,
aconteceu, em 1979, deixando a todos perplexos.
Incluído aí o governador Antônio Carlos Magalhães, que se refere na TV a
essa fuga e à busca que se empreendeu a partir de então.
O filme de Emília Silveira, ela também uma
ex-prisioneira política, refaz com o próprio Theodomiro, seu filho Guga e
outros participantes daquele período, a incrível fuga, os lugares por onde ele
passou, os refúgios, e como foi possível ludibriar desde os carcereiros da
prisão a toda a estrutura policial militar do cerco à sua recaptura.
É um belo trabalho documental, cheio de humanidade,
que não se alimenta de ódio nem de vingança, mas da retomada de um período
histórico brasileiro que não pode ser esquecido, com os elementos emocionais
que estão envolvidos na vida das pessoas.
Por exemplo, o filho Guga, com o documentário, pôde finalmente conhecer
a verdadeira história do pai. E a
galeria F, onde fica a cela que abrigou o prisioneiro político por muitos anos,
acaba sendo a testemunha de uma época trágica, que ainda estamos buscando
superar definitivamente. Será possível?
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