quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DIPLOMACIA

Antonio Carlos Egypto




DIPLOMACIA (Diplomatie).  Alemanha, França, 2014.  Direção: Volker Schlöndorff.  Com André Dussolier, Niels Arestrup, Robert Stadlober, Charlie Nelson, Jean-Marc Roulot.  88 min.


O novo filme do grande diretor alemão Volker Schlöndorff, chamado “Diplomacia”, é baseado na peça teatral do mesmo nome de Cyril Gely, que fez o roteiro do filme, em parceria com o diretor.

O assunto é o mesmo do filme de René Clément, “Paris Está em Chamas?”, lançado em DVD há pouco tempo. Esse filme é de 1966, mas só o vi recentemente.  É curioso ver o tema da explosão de Paris por Hitler retomado neste “Diplomacia”, de 2014, que chega agora aos cinemas.

Segunda Guerra Mundial.  25 de agosto de 1944.  Na Paris ocupada pelos alemães, a entrada dos Aliados para a retomada da cidade é iminente, assim como o fim da guerra, que está próximo.  Ela está perdida para o Eixo, capitaneado pela Alemanha.  O general Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup), que coordena as forças de ocupação alemãs em Paris, é fiel ao Terceiro Reich e recebe ordem expressa, vinda de Hitler, para explodir a capital da França, incluindo suas pontes, monumentos e museus.  A ideia era oferecer aos vencedores terra arrasada.  Sabemos o final da história, mas o filme de Schlöndorff constrói um belo suspense com isso.  O que fará o general?  Está tudo pronto para explodir, fartamente carregado de dinamite, falta só a ordem para a explosão.  Ela virá?



O que acabará determinando tal decisão é o relacionamento do general com o cônsul-geral da Suécia em Paris, Raoul Nordling (André Dussolier).  Do embate intelectual entre ambos far-se-á a luz. 

O filme se centra na relação dos dois personagens, como se ela estivesse ocorrendo toda na noite fatídica da decisão.  As cenas originais de rua servem apenas de elemento ilustrativo.  É do confronto dos dois que se alimenta todo o filme.  Em econômicos 88 minutos, acompanhamos toda a evolução da conversa que colocava em jogo um dos maiores patrimônios culturais da humanidade e vidas humanas em profusão.  Os dois protagonistas, atores brilhantes, que já haviam vivido os mesmos papéis no teatro, em 2011, carregam magistralmente a trama.

André Dussolier, que faz o cônsul-sueco, é um dos atores que mais atuaram com Alain Resnais, que o tinha como um de seus prediletos.  Mas trabalhou também com François Truffaut, Claude Chabrol, Claude Lelouch, Erich Rohmer, Coline Serreau, Bertrand Blier e muitos outros. Niels Arestrup, o general, trabalhou com Chantal Akerman, Claude Lelouch, Marco Ferreri, István Szabó, Jacques Audiard, Steven Spielberg, Bernard Tavernier e, também, Alain Resnais.  Outra bela trajetória. Com atores assim, o resultado é eletrizante.  Mesmo tudo se passando basicamente entre as paredes da sala de trabalho do oficial nazista.




Em comparação com a superprodução francesa “Paris Está em Chamas?”, que reuniu um dos maiores elencos e participações especiais às pencas, a economia de recursos e de tempo de “Diplomacia” é incrível.  René Clément contou com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola.  Teve no elenco Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, Alain Delon, Kirk Douglas, Glenn Ford, Yves Montand, Anthony Perkins, Michel Piccoli e até Orson Welles, no papel do cônsul sueco. Precisou de 165 minutos para registrar o mesmo fato.  Mas escolheu outro caminho: o do minucioso detalhamento das batalhas de rua na Paris em que a Resistência tentava reconquistar pontos estratégicos, à espera do embarque aliado.  Interessante do ponto de vista histórico, com base nos fatos e resgate de imagens originais em grande quantidade, mas longo e cansativo.  “Diplomacia”, ao contrário, foca no embate razão e emoção, no seguir ordens absurdas sem questioná-las, ou do medo de enfrentá-las ou, ainda, da coragem de fazê-lo, dos riscos a correr, da capacidade de avaliar a monstruosidade que estava em jogo.

Volker Schlöndorff, em “O Mar ao Amanhecer”, de 2011, já se debruçava sobre a questão humana que a guerra abala e destrói de forma absurda, sem falar na sua obra-prima, “O Tambor”, de 1979, em que um menino grita e bate um tambor para enfrentar os absurdos da guerra e da vida.  Seu estilo contundente de filmar nos obriga a encarar realidades estranhas e desagradáveis.  E constrói um forte humanismo como resposta.

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