Antonio
Carlos Egypto
O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN. Brasil, 2014.
Direção: Iberê Carvalho. Com
Othon Bastos, Breno Nina, Rita Assemany, Fernanda Rocha, Chico Sant’Anna. 100 min.
Há coisas que teimam em resistir às mudanças do
tempo. Talvez porque o seu glamour
permaneça, apesar da debacle mercadológica.
Se não fosse assim, como explicar o cine drive-in de Brasília, que abriu
em 1973, fechou em 1988 e foi reaberto e mantido, apesar da queda considerável
de frequência e faturamento?
O filme do brasiliense Iberê Carvalho, “O Último Cine
Drive-In”, é uma homenagem a essa batalha quase quixotesca de preservação de um
tipo de cinema que não atende mais às expectativas do público, mas continua
tendo seu charme. E, pelo jeito, não só
para os frequentadores que estão em busca de um espaço preservado para seus
contatos sexuais.
O cinema drive-in é, sem dúvida, referência e
personagem do filme, e as cenas finais são uma ode visual ao mundo romântico,
sem prejuízo do sexual, que envolve essas projeções.
Os personagens que circulam por esse cinema são
figuras desencontradas de si mesmas, vivendo conflitos pessoais diversos ou
tendo que encarar os momentos finais da vida.
No centro da narrativa, uma relação pai-filho complicada, cheia de
desencontros e incompreensões. Um mundo
se desintegra, enquanto a morte física da mãe se anuncia. A decadência do cinema resiste por amor de
seus funcionários, obstinação do dono, ideal romântico a ser cultivado pelo filho
para sua mãe, ainda que seja por um dia só.
As figuras humanas que constituem os personagens de
“O Último Cine Drive-In” vão se revelando pouco a pouco, suas estranhas
relações permanecem com algum mistério, mas o que as liga é esse cinema
drive-in, que chega à sua derradeira sessão e enche de emoção a todos, fazendo
uma liga improvável entre essas pessoas.
O filme é bem construído nesse quase quebra-cabeças
que nos apresenta e tem um elenco cheio de talentos, o que dá uma dimensão
forte a essa história que é contada aos bocados.
O veterano Othon Bastos faz Almeida, o pai e dono do
cine drive-in. Breno Nina faz Marlonbrando (o nome não podia ser mais
emblemático para se referir ao cinema), o filho. Rita Assemany faz a mãe Fátima, doente
terminal. Os dois funcionários do cinema
são Paula (Fernanda Rocha), a projecionista/operadora, e José (Chico Sant’Anna,
o bilheteiro, limpador, faz-tudo do cinema.
Todos estão muito bem nos seus papéis.
No Festival de Cinema de Gramado 2015, Breno Nina levou o prêmio de
ator, Fernanda Rocha, o de atriz coadjuvante, além de Maíra Carvalho, o da
direção de arte. E o filme levou o
prêmio da crítica de melhor longa-metragem nacional.
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