Antonio
Carlos Egypto
O
SAL DA TERRA (The Salt of the Earth). França, 2014. Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro
Salgado. Documentário, 109 min.
Se você me perguntar se vale a pena ver “O Sal da Terra”,
aquele documentário sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que
concorreu ao Oscar 2015, eu poderia lhe responder primeiro com uma
pergunta. Você gostaria de ver ampliadas
na tela do cinema as fotografias de Sebastião Salgado? É claro que sim. São de uma beleza estonteante que só têm a
ganhar com a ampliação, mantendo a qualidade da imagem. Esse já é um motivo suficiente para se sair
de cada para ver o filme.
Acrescente-se a isso que quem dirige o documentário
são duas pessoas importantes. O cineasta
alemão Wim Wenders, que tem uma vasta trajetória na história do cinema, em que
eu destacaria “Asas do Desejo”, de 1987, uma obra-prima. Seu codiretor é
Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, que com o pai tem compartilhado
não só a existência familiar e a influência educacional, mas também várias
aventuras fotográficas pelo mundo.
WIM WENDERS e SEBASTIÃO SALGADO |
Sebastião Salgado não é só um dos mais importantes
fotografos do mundo, é um homem de ideias claras, comunicação fácil,
inteligência aguda. Ouvi-lo falar sobre
seu trabalho e sua longa experiência no ofício é muito atraente e
esclarecedor.
Ele andou pelos rincões mais remotos, foi em busca de
entender o ser humano e suas terríveis mazelas, da ambição desmedida à fome, ao
êxodo, à guerra e ao genocídio. Foi
atrás da morte para mostrá-la ao mundo.
Tornou-se um extraordinário fotógrafo social, mas acabou adoecendo. Não foi atingido por nenhum doença
infecciosa. O que adoeceu foi sua alma,
segundo suas próprias palavras.
E é aí que Sebastião Salgado se reinventa, muda o
foco de sua câmera e vai em busca de territórios primitivos, fauna e flora
selvagens, paisagens nunca registradas, coisas grandiosas que fazem um tributo
à beleza do planeta. E descobre que
grande parte do nosso planeta continua intocada, para nossa surpresa.
Ao lado dessa incrível trajetória, o filme também
descreve uma não menos importante realização pessoal e familiar: a reconstrução
da grande fazenda de seus avós, recuperada após ter sucumbido à seca e à perda
de sua mata de origem. Dois milhões e
meio de árvores nativas plantadas, o retorno da água em abundância, a plena
recuperação ecológica, mostram que é possível reverter esse nosso mundo que se
deteriora. Existem caminhos.
Todas essas informações básicas eu já havia ouvido
dele em uma entrevista pela TV a Jô Soares.
Colocadas no filme, com o profissional em ação, além de suas magníficas
fotos, se tornam puro prazer intelectual, estético. E um revigorante impulso positivo.
O filme está sendo exibido na 4ª. Mostra Ecofalante
de Cinema Ambiental, em São Paulo, que tem muitos outros bons títulos sendo
mostrados. Além disso, a Mostra faz uma
apresentação de filmes históricos que incluem um diretor importante do Egito,
Youssef Chahine (1926-2008), com “Um Dia, o Nilo”, e Glauber Rocha (1939-1981),
com o curta “Amazonas, Amazonas”. Tem como outra grande atração a
homenagem/retrospectiva ao cineasta brasileiro Jorge Bodanzky, que filmou o
clássico “Iracema, uma Transa Amazônica”, de 1974, e voltou às comunidades
amazônicas com “No Meio do Rio, Entre as Árvores”, de 2009, entre outros
trabalhos que exploram a fronteira difusa entre o documentário e a ficção.
“O Sal da Terra” entrará no circuito comercial dos
cinemas logo após a Mostra Ecofalante.
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