Antonio
Carlos Egypto
ACIMA DAS NUVENS (Clouds
of Sils Maria). França, Suíça,
2014. Direção e roteiro: Olivier
Assayas. Com Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloë
Grace Moretz, Lars Eldinger. 123 min.
“Acima das Nuvens”, com roteiro e direção de Olivier
Assayas, é um filme que apresenta uma narrativa muito bem estruturada no
paralelismo de uma atriz que se prepara para refazer uma peça em que brilhou no
passado, em novo papel, que reflete, repercute e modifica a relação dela com
sua assistente. Na vida como na peça.
Os diálogos são tão bem construídos que em boa parte
das cenas não se consegue distinguir claramente se eles se referem a um trecho
da peça ou à relação presente que estamos vendo. Se é ficção, ensaio da peça, ou realidade, a
relação que se dá entre a atriz e a assistente.
Se a peça original falava de uma relação amorosa
entre duas mulheres a partir de um contexto profissional, o que assistimos
acontecer agora é, a rigor, a mesma coisa.
O substrato do conflito é também o mesmo: a passagem do tempo, a
diferença de idade e as características de ambas, que criam o contexto no qual
a mais nova domina a relação e subjuga, de algum modo, a mais velha.
A personagem jovem na peça é Sigrid, que foi vivida
no esplendor dos vinte anos de idade por Maria Enders (Juliette Binoche), atriz
respeitada e consagrada. Hoje, caberia a
ela o papel da mais velha, Helena, que sente a passagem do tempo e é a que
sofre a dominação da outra. Um desafio e
tanto, porque a faz conviver com seus medos e fantasmas. Que se materializam na peça por uma nova
Sigrid, a atriz Jo-Ann Elis (Chloë Grace Moretz), jovem audaciosa e amante de
polêmicas. E, ao mesmo tempo, podem se
encontrar em Valentine (Kristen Stewart), a jovem assistente, viva, inteligente
e objeto de desejo não explicitado.
Se o autor da peça envelhece e morre, sendo objeto de
homenagens, o diretor teatral é jovem, talentoso e ambicioso. Quer Maria Enders para viver Helena, depois
de ter vivido Sigrid: um atrativo a mais para a montagem. A personalidade e a notoriedade da atriz que
fará a nova Sigrid garante o restante da publicidade.
O dilema de Maria Enders, em meio às montanhas suíças
de Sils Maria, são o centro e a razão de ser da trama, magnificamente
costurada. O clima de ansiedade, tensão,
desejo e hesitação que povoam a personagem são vividos com grande competência e
sutileza por Juliette Binoche. Pelas
mãos hábeis de Olivier Assayas, o filme transmite a verdade psíquica de uma
personagem rica, complexa e cheia de conflitos.
Fala-se de uma relação amorosa que oscila entre a repressão dos
sentimentos e desejos e a disputa pelo poder.
Ou melhor, de duas situações similares, que ocorrem
simultaneamente. De amores adultos entre
mulheres e do que o tempo significa para cada uma.
Valentine, em bom desempenho de Kristen Stewart, faz
o contraponto perfeito para a grande atriz madura. Chloë Grace Moretz tem a força e a vitalidade
necessárias na representação de Jo-Ann Elis, a que será a nova Sigrid. O jogo de cena entre as três principais
personagens, três mulheres fortes, prende a atenção do espectador todo o tempo. Há suspense e revelações à espreita. A dubiedade que vive a personagem de Juliette
Binoche nos envolve de tal modo que nos sentimos enredados na sua história.
“Acima das Nuvens” foi exibido na 38ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro último. Foi um dos melhores títulos ali
apresentados. Não cheguei a incluí-lo na
minha lista dos melhores do evento porque só o vi agora. Um grande filme, em todos os sentidos
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