Antonio Carlos
Egypto
SEM PENA.
Brasil, 2014. Direção: Eugênio
Puppo. Documentário. 87 min.
“Sem Pena” mostra, com todos os elementos, a
validade da tese que sustenta: a da falibilidade do sistema de justiça, do
sistema penal, e de como eles refletem uma estrutura socioeconômica
perversa. A questão prisional também é
bem abordada.
Com exceção de um julgamento sumário
registrado pelas câmeras com autorização, no restante do filme o som nunca
corresponde à imagem. Dialoga com ela
direta ou indiretamente. O recurso é
interessante, já que o foco passa a ser o que é dito, as ideias, e não quem
fala. Isso permite colocar todos os
entrevistados no mesmo patamar de importância, sem influência da imagem do personagem,
se engravatado ou humilde, por exemplo.
A questão é que esse recurso acaba se tornando
cansativo ao longo do tempo do filme. Em
muitas situações, a origem do discurso é fácil de supor de onde possa vir, mas
a gente acaba sentindo falta da referência imagética.
“Sem Pena” enfrenta uma questão-problema séria
e importante, de difícil equacionamento e encaminhamento. Com base nos dados do Instituto de Defesa do
Direito de Defesa (IDDD) e da prática dessa organização, o filme de Eugênio
Puppo pôde penetrar nos meandros jurídicos, filmar em locais especiais,
encontrar depoentes com históricos marcantes e ter acesso a informações
relevantes que interessam a toda a população.
Na verdade, não sabemos o que se passa na
justiça criminal e no sistema prisional, até que conheçamos alguém ou algum
caso mais próximo. Por desconhecer essa
realidade, é que tanta gente acredita que encarcerar as pessoas e endurecer as
leis possa levar a algum lugar. Os
telejornais de todas as noites se encarregam de espetacularizar essa realidade
e reforçar essa tendência. Mas é por
outros caminhos que temos de trilhar, se quisermos desativar a bomba relógio
que está para explodir, segundo nos mostra o documentário “Sem Pena”.
O filme foi o vencedor do júri popular do Festival
de Brasília do Cinema Brasileiro 2014.
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