quarta-feira, 18 de junho de 2014

O HOMEM DUPLICADO

 Antonio Carlos Egypto



O HOMEM DUPLICADO (Enemy).  Canadá, 2013.  Direção: Denis Villeneuve.  Com Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon, Isabella Rossellini.  90 min.



Uma história intrigante, saída de um romance de José Saramago, deu origem ao filme canadense “O Homem Duplicado”.  Uma trama que envolve o espectador, cria suspense, mistério.

Imagine a situação: um homem adulto descobre que tem um clone.  Alguém igualzinho a ele, com a mesma voz.  A mãe garante que ele não tem um irmão gêmeo, univitelino, que ela tenha escondido.  Como explicar esse sósia? De qualquer modo não será possível ignorar sua existência.

O fato é que isso mexe muito com os dois personagens idênticos, que irão procurar encontrar seu duplo e lidar com a estranha situação.  Além deles, suas mulheres terão de se relacionar com os dois, algo inusitado e angustiante, que desestabiliza ambas as relações.



Há aí um mote muito interessante para o desenvolvimento da narrativa.  Cenas que envolvem telefonemas e comportamentos estranhos, perseguições, confrontos, ambiguidades.  Tudo isso faz do filme uma experiência atrativa.

Mas o diretor Denis Villeneuve, do superestimado “Incêndios”, de 2010, complica mais do que seria necessário o tal mistério.  Joga o espectador numa zona cinzenta e faz questão de não sair dela.  Para quê?  Para que o mistério continue sendo mistério.  E por quê?  Não se podem ou não se devem elucidar as questões?  Diante de uma proposta que envolve a questão da perda da identidade numa sociedade que valoriza o individualismo, o assunto fica submerso no mistério. Estranho.  O final deve ficar aberto, mesmo que se pudesse entendê-lo?  Não sei qual é a intenção ou justificativa.  Só posso dizer que não gostei da forma como ele encaminhou a resolução do filme.  Mais parece uma “pegadinha”, embora apresente ares de profundidade artística, obra aberta, essas coisas.  Não convence.



Quem faz o duplo papel do protagonista masculino é Jake Gyllenhaal, bom ator, que tem a oportunidade de viver duas personalidades distintas e até de contracenar consigo mesmo, e o faz com uma interpretação sutil e apropriada.

Um filme bom de se ver, embora fique devendo alguma coisa mais consistente para o espectador.  A bela história do grande Saramago merecia mais



Nenhum comentário:

Postar um comentário