Antonio Carlos Egypto
CORES. Brasil, 2012.
Direção: Francisco Garcia. Com
Acauã Sol, Pedro di Pietro, Simone Iliescu.
95 min.
“Cores” é um filme localizado em
São Paulo, na atualidade. Aborda a vida
de três jovens amigos, todos na faixa dos 30 anos de idade, desencontrados consigo
mesmos e com o ambiente social onde estariam inseridos. Estariam, porque, na verdade, não estão,
sentem-se estranhos no paraíso, em descompasso com sua cidade e seu país.
São Paulo é uma cidade brasileira
onde tudo acontece, e de forma vertiginosa.
Difícil não encontrar aqui alguma oportunidade ou algo que
interesse. Há para todas as tribos, para
todos os gostos, para qualquer ideia de trabalho. É preciso ir atrás, cavar, ter contatos. Mas que há espaço para quase tudo, há. Seus contrastes são intensos, a vida do povo
trabalhador é sofrida e desigual, em cada segmento da cidade. Ainda assim, é possível encontrar um caminho
produtivo, seja ele qual for.
Se considerarmos que o país vive
um período de desenvolvimento econômico e pleno emprego, como atesta uma fala
do então Presidente Lula, veiculada numa cena de TV no filme, o contraste com
os jovens urbanos perdidos na cena paulista e brasileira soa anacrônico.
Luca (Pedro di Pietro), aos 31
anos, é tatuador, tem uma oficina no quintal da casa da avó, com quem vive e de
quem, afinal, depende financeiramente.
Cuida dela como e quando consegue.
Luís (Acauã Sol), aos 29 anos,
mora numa pensão no centro e trabalha períodos, numa drogaria. Mas seu real interesse é a oportunidade para
roubar drogas para si e arrumar alguma para outros. Perde o emprego e sai com uma mão na frente e
outra atrás, como seria de se esperar. A
crueldade do dono da farmácia é apenas um detalhe que não muda muita coisa
nesse quadro.
Luara (Simone Iliescu), aos 30
anos, vive num apartamento no fundo do aeroporto de Congonhas e trabalha numa
loja de peixes ornamentais, sem maiores perspectivas ou chance de realizar a
viagem de que gostaria, a menos que aceite um convite suspeito de um cliente
interessado em favores sexuais.
Todos vivem uma rotina ordinária
e alienada, sem se ajudarem uns aos outros e em total falta de horizontes,
bebendo e consumindo outras drogas, sem fazer nada ou planejar nada. Sem buscar coisa alguma no mundo.
O filme “Cores” faz questão de
não julgá-los moralmente. Eles são e
vivem assim. Cabe ao espectador avaliar,
quem sabe. O contraste, em todo caso, é
gritante. O que cairá do céu para
eles? Só a chuva, para
encharcá-los. E eles parecem gostar
disso. São escolhas que cada um pode
fazer.
“Cores” tem ainda um outro
contraste. Apesar do nome, é um filme em
preto e branco, e com uma bela fotografia.
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