sexta-feira, 10 de maio de 2013

CORES


                                      
Antonio Carlos Egypto




CORES.  Brasil, 2012.  Direção: Francisco Garcia.  Com Acauã Sol, Pedro di Pietro, Simone Iliescu.  95 min.


“Cores” é um filme localizado em São Paulo, na atualidade.  Aborda a vida de três jovens amigos, todos na faixa dos 30 anos de idade, desencontrados consigo mesmos e com o ambiente social onde estariam inseridos.  Estariam, porque, na verdade, não estão, sentem-se estranhos no paraíso, em descompasso com sua cidade e seu país.

São Paulo é uma cidade brasileira onde tudo acontece, e de forma vertiginosa.  Difícil não encontrar aqui alguma oportunidade ou algo que interesse.  Há para todas as tribos, para todos os gostos, para qualquer ideia de trabalho.  É preciso ir atrás, cavar, ter contatos.  Mas que há espaço para quase tudo, há.  Seus contrastes são intensos, a vida do povo trabalhador é sofrida e desigual, em cada segmento da cidade.  Ainda assim, é possível encontrar um caminho produtivo, seja ele qual for. 




Se considerarmos que o país vive um período de desenvolvimento econômico e pleno emprego, como atesta uma fala do então Presidente Lula, veiculada numa cena de TV no filme, o contraste com os jovens urbanos perdidos na cena paulista e brasileira soa anacrônico.

Luca (Pedro di Pietro), aos 31 anos, é tatuador, tem uma oficina no quintal da casa da avó, com quem vive e de quem, afinal, depende financeiramente.  Cuida dela como e quando consegue. 




Luís (Acauã Sol), aos 29 anos, mora numa pensão no centro e trabalha períodos, numa drogaria.  Mas seu real interesse é a oportunidade para roubar drogas para si e arrumar alguma para outros.  Perde o emprego e sai com uma mão na frente e outra atrás, como seria de se esperar.  A crueldade do dono da farmácia é apenas um detalhe que não muda muita coisa nesse quadro.

Luara (Simone Iliescu), aos 30 anos, vive num apartamento no fundo do aeroporto de Congonhas e trabalha numa loja de peixes ornamentais, sem maiores perspectivas ou chance de realizar a viagem de que gostaria, a menos que aceite um convite suspeito de um cliente interessado em favores sexuais.




Todos vivem uma rotina ordinária e alienada, sem se ajudarem uns aos outros e em total falta de horizontes, bebendo e consumindo outras drogas, sem fazer nada ou planejar nada.  Sem buscar coisa alguma no mundo.

O filme “Cores” faz questão de não julgá-los moralmente.  Eles são e vivem assim.  Cabe ao espectador avaliar, quem sabe.  O contraste, em todo caso, é gritante.  O que cairá do céu para eles?  Só a chuva, para encharcá-los.  E eles parecem gostar disso.  São escolhas que cada um pode fazer.

“Cores” tem ainda um outro contraste.  Apesar do nome, é um filme em preto e branco, e com uma bela fotografia.



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