sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

COLEGAS

                              
Antonio Carlos Egypto


COLEGAS, Brasil, 2012.  Direção: Marcelo Galvão.  Com: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Juliana Didone, Marco Luque.  100 min.


“Colegas” é um filme nacional que tem como protagonistas três personagens com Síndrome de Down.  Os atores que os encarnam são também portadores da síndrome: o personagem Stalone é vivido por Ariel Goldenberg, Aninha é Rita Pokk e Márcio é Breno Viola.  Os três, após viverem suas vidas, até a juventude, numa instituição especializada, e cada um por razões diversas longe dos pais ou sem os ter, resolvem se evadir de lá e viver uma aventura pelo mundo.  Inspirados pelo filme “Thelma e Louise”.  Por sinal, o filme todo faz citação de outros filmes, como “Casablanca”, “Psicose” ou “Tropa de Elite”. É dessa aventura cheia de situações divertidas que se alimenta a comédia.  Além de Lima Duarte e a participação de outros atores profissionais, o filme conta com mais de 60 jovens com Síndrome de Down, no elenco de apoio.

Vê-se, portanto, que é a síndrome o assunto principal do filme.  E como ela é abordada?  De forma respeitosa e sem apresentar os personagens como vítimas. Além do humor, por vezes até involuntário, decorrente do improviso de algum dos atores, os protagonistas fazem suas maldades, transgridem a lei.  Dentro de uma lógica própria, que é bem intencionada, mas, de qualquer modo, transgressora.



O filme tem um alto astral e os protagonistas conseguem facilmente a simpatia do espectador.  Tem potencial, portanto, para uma boa carreira comercial.  E, ao mesmo tempo, venceu o Festival de Gramado, o que não é pouca coisa.

É, sem dúvida, um filme simpático.  O que não significa que não tenha problemas.  Um deles é saber quando se passa a ação, já que há celulares, mas também telefones fixos de discagem circular.  O carro que os protagonistas usam tem selo de 1997, mas a citação a “Tropa de Elite” indica uma atualidade maior.  Já as roupas, nem tanto.  Fica um tanto confuso isso.

Há também problemas de continuidade.  No início do filme, quando fogem da instituição educativa, todos estão de pijama.  Mas passam por um circo e roubam roupas do espetáculo circense, estão com elas em boa parte da trama.  Até que, apesar da narrativa linear no tempo, eles reaparecem com os pijamas que haviam sido descartados.  E vestidos dessa forma vão se paramentar para uma festa, com roupas sociais.  Como assim?

Lima Duarte, o jardineiro da instituição, que tem também um papel educador no filme, faz a narrativa em off do périplo dos jovens.  Explica demais o que está acontecendo.  Inclusive, aquilo que as imagens já haviam mostrado.  Desnecessário e redundante.  Há, ainda, alguns problemas de dicção no desempenho dos atores, o que prejudica a captação de algumas falas, mas isso não chega a atrapalhar a compreensão do que acontece.



O tratamento bem-humorado dado à Síndrome de Down e a utilização de seus portadores como atores é uma experiência bem sucedida.  Embora não acrescente novas informações relevantes ao tema, nem consiga aprofundar a discussão sobre ele.  Mas o simples fato de nos pôr em contato próximo com as pessoas, e os personagens, portadores da Síndrome de Down já é um bom ganho.  Quando a gente se aproxima de alguém, ou de algo, que desconhece ou conhece pouco, a chance de avançar no conhecimento e superar estereótipos e preconceitos é muito grande.  “Colegas” é um filme que alcança  esse objetivo.  E é um bom entretenimento.  Tem agradado o público nas sessões em que foi exibido em festivais.



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