Antonio Carlos Egypto
COLEGAS, Brasil, 2012. Direção: Marcelo Galvão. Com: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno
Viola, Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Juliana Didone, Marco Luque. 100 min.
“Colegas” é um filme nacional que tem como
protagonistas três personagens com Síndrome de Down. Os atores que os encarnam são também
portadores da síndrome: o personagem Stalone é vivido por Ariel Goldenberg,
Aninha é Rita Pokk e Márcio é Breno Viola.
Os três, após viverem suas vidas, até a juventude, numa instituição
especializada, e cada um por razões diversas longe dos pais ou sem os ter,
resolvem se evadir de lá e viver uma aventura pelo mundo. Inspirados pelo filme “Thelma e Louise”. Por sinal, o filme todo faz citação de outros
filmes, como “Casablanca”, “Psicose” ou “Tropa de Elite”. É dessa aventura
cheia de situações divertidas que se alimenta a comédia. Além de Lima Duarte e a participação de
outros atores profissionais, o filme conta com mais de 60 jovens com Síndrome
de Down, no elenco de apoio.
Vê-se, portanto, que é a síndrome o assunto principal
do filme. E como ela é abordada? De forma respeitosa e sem apresentar os
personagens como vítimas. Além do humor, por vezes até involuntário, decorrente
do improviso de algum dos atores, os protagonistas fazem suas maldades,
transgridem a lei. Dentro de uma lógica
própria, que é bem intencionada, mas, de qualquer modo, transgressora.
O filme tem um alto astral e os protagonistas
conseguem facilmente a simpatia do espectador.
Tem potencial, portanto, para uma boa carreira comercial. E, ao mesmo tempo, venceu o Festival de
Gramado, o que não é pouca coisa.
É, sem dúvida, um filme simpático. O que não significa que não tenha
problemas. Um deles é saber quando se
passa a ação, já que há celulares, mas também telefones fixos de discagem
circular. O carro que os protagonistas
usam tem selo de 1997, mas a citação a “Tropa de Elite” indica uma atualidade
maior. Já as roupas, nem tanto. Fica um tanto confuso isso.
Há também problemas de continuidade. No início do filme, quando fogem da
instituição educativa, todos estão de pijama.
Mas passam por um circo e roubam roupas do espetáculo circense, estão
com elas em boa parte da trama. Até que,
apesar da narrativa linear no tempo, eles reaparecem com os pijamas que haviam
sido descartados. E vestidos dessa forma
vão se paramentar para uma festa, com roupas sociais. Como assim?
Lima Duarte, o jardineiro da instituição, que tem
também um papel educador no filme, faz a narrativa em off do périplo dos jovens.
Explica demais o que está acontecendo.
Inclusive, aquilo que as imagens já haviam mostrado. Desnecessário e redundante. Há, ainda, alguns problemas de dicção no
desempenho dos atores, o que prejudica a captação de algumas falas, mas isso
não chega a atrapalhar a compreensão do que acontece.
O tratamento bem-humorado dado à Síndrome de Down e a
utilização de seus portadores como atores é uma experiência bem sucedida. Embora não acrescente novas informações relevantes
ao tema, nem consiga aprofundar a discussão sobre ele. Mas o simples fato de nos pôr em contato
próximo com as pessoas, e os personagens, portadores da Síndrome de Down já é
um bom ganho. Quando a gente se aproxima
de alguém, ou de algo, que desconhece ou conhece pouco, a chance de avançar no
conhecimento e superar estereótipos e preconceitos é muito grande. “Colegas” é um filme que alcança esse objetivo.
E é um bom entretenimento. Tem
agradado o público nas sessões em que foi exibido em festivais.
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