quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A FILHA DO PAI

                           
Antonio Carlos Egypto




A FILHA DO PAI (La Fille du Puisatier).  França, 2011.  Direção: Daniel Auteuil.  Com Daniel Auteuil, Kad Merad, Sabine Azéma, Jean-Pierre Darroussin, Nicolas Duvauchelle, Astrid Bergés-Frisbey, Emilie Cazenave.  107 min.


“A Filha do Pai” que, na verdade, seria a filha do poceiro, em tradução literal, é um filme baseado na obra de Marcel Pagnol (1895-1974).  O autor, que foi romancista, dramaturgo e também cineasta, escreveu uma série de clássicos populares franceses admiráveis.  Quem conhece as adaptações de seus livros “Jean de Florette” e “A vingança de Manon”, ambos de 1986,  com direção de Claude Berri, e os filmes “A glória de meu pai” e “O castelo de minha mãe”, de 1990, dirigidos por Yves Robert, sabe que estamos diante de histórias encantadoras e muito bem construídas, que resultaram em películas muito cativantes.  Todas de narrativa clássica, com direito a grandes interpretações e magníficas locações.  A obra de Pagnol remete a belas regiões da França em um contexto rural, de pequenas cidades.



Quem gostou dos filmes que citei acima não deixe de ver “A filha do pai”.  É tiro certo.  Porque, mais uma vez, a história é ótima.  Envolve dilemas morais muito bem expostos.  Põe em questão a força dos valores de uma época em que os princípios pesavam muito mais do que hoje.  No entanto, na hora de uma decisão importante da vida, o dilema se impunha da mesma forma.  Na hora do concreto, a teoria dança e se não dançar só produz besteira e sofrimento inútil.

A saída para Pagnol estará sempre na retidão do caráter e na força dos afetos.  É por aí que passam questões muito sérias, como os conflitos entre as classes sociais, em que os interesses antagônicos inevitavelmente se expressam.  Mas em que há, também, a chance de algum entendimento, se o humanismo se impuser aos interesses monetários.  E, claro, há lugar para o romance, o triângulo amoroso, o papel devastador da guerra nas relações familiares e amorosas.  Tudo se passando em lugares de beleza natural que proporcionam imagens cativantes, como de costume.



Se a obra de Pagnol dá margem a um cinema tão interessante, é também porque quem se dedica a essas adaptações o faz com empenho e respeito pelo autor clássico, e o faz com competência.  Daniel Auteuil, grande ator do cinema francês, que inclusive participou de “Jean de Florette” e “A vingança de Manon”, demonstra grande domínio também como cineasta já neste seu primeiro filme.  Seguindo os mesmos cânones tradicionais, clássicos, que marcaram as outras adaptações da obra de Pagnol, ele se sai muito bem, conduzindo um filme tão bom quanto aqueles e ainda exibindo seu talento de ator como protagonista da fita.  Ele está no papel do pai, Amoretti, da filha Patrícia (Astrid Bergés-Frisbey), o poceiro às voltas com o patrão Mazel (Jean-Pierre Darroussin) e seu filho Jacques (Nicolas Duvauchelle), piloto de caça que vai para a guerra.  O triângulo se faz com Felipe (Kad Merad), interessado em casar com Patrícia.


O elenco é todo muito bom e dá conta magnificamente dos seus personagens e do clima da história.  A única coisa que não convence é a idade de Kad Merad para o papel de Felipe.  Daniel Auteuil deveria ter escalado um ator mais jovem para a função.  O ator é ótimo, mas a figura não casa com o personagem.  No mais, tudo funciona muito bem, inclusive a música, de Alexandre Desplat, que é muito bonita.


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