quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ELEFANTE BRANCO


 Antonio Carlos Egypto

ELEFANTE BRANCO (Elefante Blanco).  Argentina, 2011.  Direção: Pablo Trapero.  Com Ricardo Darín, Martina Gusman, Jérèmie Renier.  110 min.


Um projeto para construir o maior hospital da América Latina, em Buenos Aires, foi concebido e iniciado em 1937.  Abandonado, retomado e novamente abandonado, acabou se tornando o elefante branco do título do novo filme de Pablo Trapero.  Em seu entorno, se formou uma favela com cerca de 30 mil moradores, foco de violência e disputa pelo controle do tráfico de drogas entre gangues fortemente armadas.

Nesse ambiente se situa a paróquia de Jesus Operário, onde atua o Padre Juan (Ricardo Darín), respeitado e admirado pela comunidade, a assistente social Luciana (Martina Gusman) e para onde vai também o padre francês Nicolás (Jérèmie Renier), que conseguiu sobreviver a um violento ataque durante uma missão na selva amazônica.



A questão social é tão fortemente abordada no filme de Trapero que é como se estivesse gritando aos nossos ouvidos, nos ensurdecendo.  A mise-en-scène do diretor nos coloca dentro do ambiente da favela, vivendo tudo o que aquela comunidade experimenta de pobreza, de insegurança, de revolta, de risco, de intolerância.  E ele não coloca os habitantes da favela simplesmente como vítimas.  Eles também cometem erros muito grandes e injustiças flagrantes.  Mas, é claro que, no ambiente em que vivem, acaba sendo inevitável.  A assistente social e os padres sabem disso.

O papel da igreja na história é bem ambíguo.  De um lado, os padres dedicados, corajosos e solidários, que vivem junto à comunidade.  De outro, uma hierarquia católica que se revela incompetente e pouco sensível ao drama das pessoas.  Tudo é muito bem matizado em “Elefante Branco”.  Não há mocinhos, nem bandidos.  Mas uma realidade social nua e crua, que Pablo Trapero nos obriga a encarar com suas imagens contundentes.



O trio de atores que conduz a trama do filme é excelente, muito convincente em suas atuações.  Dá força ao drama humano que decorre diante de nossos olhos.

Pablo Trapero,, um dos mais brilhantes cineastas latino-americanos, já nos deu outras obras de grande densidade e força como essa.  É só se lembrar de filmes como “Leonera”, de 2008, e “Abutres”, de 2010 (veja a crítica de “Abutres” no cinema com recheio – novembro/2010).  “Elefante Branco” foi exibido no Festival do Rio 2012 


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