Antonio Carlos Egypto
ROMÂNTICOS ANÔNIMOS (Les Emotifs Anonymes). França/Bélgica, 2010. Direção: Jean-Pierre Améris. Com Benoît Poelvoorde, Isabelle Carré, Lorella Cravotta, Lise Lamétrie. 80 min.
O filme “Românticos Anônimos”, ou emotivos anônimos, é uma comédia que trata de timidez crônica. O diretor, Jean-Pierre Améris, diz que se inspirou em sua própria experiência pessoal, inclusive frequentando grupos de autoajuda, como o mostrado na película.
Segundo ele, que é também roteirista do filme: “As pessoas que frequentam esses grupos são pessoas que vivem sob uma tensão permanente, elas têm uma grande vontade de se apaixonar, de trabalhar, de existir, mas alguma coisa muito forte as bloqueia internamente. São cheias de energia, não estão deprimidas e nem são depressivas. Mas essa tensão que as agita internamente as leva muitas vezes a viver situações inacreditáveis, por isso, o tom de comédia que rege todo o filme.” Um bom mote para uma comédia romântica: as dificuldades que o excesso de timidez produz nas pessoas, gerando situações tão constrangedoras que se tornam hilárias.
É assim com Angélique (Isabelle Carré), uma talentosa chocolateira que fez a fama de uma marca de chocolates belga, mantendo-se anônima, atribuindo a fórmula do doce a um ermitão. Quando o dono da fábrica morre, e ninguém conhece o tal ermitão, ela fica sem emprego. Vai em busca de outra fábrica de chocolate e conhece o dono, Jean-René (Benoît Poelvoorde), tão ou mais tímido do que ela própria, incapaz de se relacionar com as mulheres sem se ensopar inteiro de suor. Isso, num mero jantar num restaurante. Dizer o quê? Se comportar como?
Dar foras todo o tempo, correr das dificuldades: disso se alimenta uma trama tão leve quanto ingênua, candidata a uma tarde despreocupada no cinema, entre uma compra e outra do período de festas natalinas.
Os quiproquós da história remetem aos problemas que os muitos tímidos têm: expressar ideias com clareza, enfrentar situações que podem incomodar, ainda que pequenas, correr riscos mínimos e, sobretudo, entregar-se ao outro numa relação afetiva que poderá tornar-se um compromisso amoroso. A cerimônia de um possível casamento em que os noivos têm de estar em primeiro plano, então, é um sofrimento atroz, a ser evitado a qualquer custo.
O assunto pode ser engraçado, mas é sério. É de sofrimento humano que se trata. A pegada leve da direção, apesar das declarações citadas, não faz jus à importância do tema. Os exageros das reações mostradas servem para acentuar o problema, mas não ajudam a entendê-lo melhor.
Os atores são bons, embora Benoît Poelvoorde precisasse ser (ou parecer) um pouco mais jovem, para que o papel passasse mais credibilidade. Afinal, alguém tão despreparado para o contato humano não conseguiria tocar uma pequena fábrica, ainda que sem sucesso. O comportamento do personagem é infantilizado demais para ser crível. A psicoterapia do tipo behaviorista a que ele se submete também é uma farsa, que não convence ninguém.
Já o papel de Isabelle Carré como Angélique tem mais consistência e credibilidade. A atriz convence com sua beleza e juventude, expressando sentimentos e comportamentos bem mais verossímeis.
É um filme que se vê com prazer, já que não exige nada do espectador e ainda lhe oferece o humor, a expectativa do amor a se realizar e degustações e conversas sobre o chocolate, seu sabor inigualável, tentador, e que pode ser constantemente melhorado, a ponto de alcançar níveis divinos. As bombonières do cinema devem ter bons lucros durante o período de exibição de “Românticos Anônimos”. Os tímidos poderão se espelhar em situações vividas pelos personagens e os românticos não terão do que se queixar, desde que busquem entretenimento puro e simples.
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