quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

OS NOMES DO AMOR

Antonio Carlos Egypto



OS NOMES DO AMOR (Le nom des gens).  França, 2010.  Direção: Michel Leclerc.  Com Sara Forestier, Jacques Gamblin, Zinedine Soualem, Carole Franck.  100 min.

“Os nomes do amor” é uma comédia francesa que, sem nenhuma grande pretensão que não seja o mero entretenimento, consegue inovar algo na história que conta.  Em tempos em que o sexo está desvencilhado dos problemas morais, ele naturalmente pode assumir um caráter pragmático, ou experimental, com facilidade.

Que tal uma militante de esquerda que esteja convencida de que a melhor maneira de convencer direitistas a mudarem de visão, ou de lado, é tê-los na cama?  E que não tenha escrúpulos em usar seu corpo para tais experiências políticas? Todos que não pensam como ela tendem a ser vistos como fascistas a serem regenerados pela via do prazer sexual.  Ela assume o lema “faça o amor, não faça a guerra”, que notabilizou os hippies nos anos 1960.  Não importa muito que sua história de vida, sua infância, possa ser invocada para explicar um comportamento ousado desse tipo, por parte dessa mulher.  O mais interessante é o uso que ela fará disso.

Bem, e quando ela encontra homens mais transigentes, mais abertos, ou mais simpáticos às causas de esquerda ou de centro-esquerda?  Fica só na amizade ou pode evoluir para o amor verdadeiro?  Mas como conciliar isso com os experimentos político-ideológicos?

É divertido e dá margem a algumas brincadeiras com as figuras políticas francesas e suas representações ideológicas, com direito até a participação no filme de Leonel Jospin como ele mesmo.  Desse modo, se permite gozar das verdades engessadas que estão em conceitos tão esquemáticos quanto excludentes.  É evidente que o mundo político é mais complexo do que o maniqueísmo direita versus esquerda, ou a turma do mal contra a turma do bem.

E será que sexo pragmático dá certo?  Quando algo mais sutil aparece, essas conceituações rasas tendem a cair por terra.  Ou se tornarem uma armadilha.

O mérito do filme é mesclar amor e política de um jeito leve e simpático, sem se levar muito a sério, nem pregar verdades em nenhuma dessas duas direções.  Amor e preferências políticas não comportam certezas, moral da história, destino inevitável, essas coisas.  Tudo pode acontecer e nada será assim tão grave ou importante.  As circunstâncias e o acaso acabam tendo um papel maior do que normalmente se avaliam que eles têm.



“Os nomes do amor” produz sorrisos, tem leveza, diverte e brinca com as verdades da vida no amor e na política, embora se restrinja aos personagens políticos franceses contemporâneos e a fatos históricos, como a relação colonial da França com a Argélia, coisas que acentuam o sabor local da película.

Sara Forestier, no papel de Bahia, a que não tem pudores, tem nome argelino, que é frequentemente confundido com a nacionalidade brasileira, é uma atriz capaz de levar esse comportamento improvável à credibilidade do espectador.  E Jacques Gamblin, no papel de Arthur, encarna a leveza de espírito do filme à perfeição.  Arthur é um judeu nada religioso, com pais moralistas, que fizeram do holocausto judaico um tabu tão grande que qualquer coisa que se diga à mesa do jantar remeterá àquela experiência que se quer apagar.  O tabu gera um constrangimento tal que vira piada, como todos os tabus, aliás.  O filme brinca respeitosamente com isso, assim como com as demais questões políticas já citadas, produzindo uma boa diversão, um passatempo de boa qualidade.

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