terça-feira, 29 de novembro de 2011

ISTO NÃO É UM FILME

Antonio Carlos Egypto

ISTO NÃO É UM FILME (In film nist).  Irã, 2010.  Direção: Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb.  Documentário.  75 min.


O cinema iraniano, nas décadas de 1980 e 1990, se destacou fortemente na cena internacional, principalmente em função da participação em festivais.  Retomando uma abordagem neorrealista, apesar da censura do regime, centrava suas histórias em pequenas questões do cotidiano, personagens infantis, questões sociais camufladas ou disfarçadas.  Diversos cineastas se projetaram, como Moshen Makmalbaf, Abbas Kiarostami e Jafar Panahi. Deveriam estar consagrados no seu país.  No entanto, a cegueira do regime autoritário islâmico dos aiatolás levou Makmalbaf e Kiarostami a viver no exterior e Panahi, à cadeia e à proibição de exercer sua profissão.

“Isto não é um filme” é um documentário doméstico, em que o cineasta Jafar Panahi tenta retratar um dia de sua vida em prisão domiciliar, em Teerã, às vésperas do Ano Novo.  O diretor iraniano recebeu a pena de seis anos de prisão, está proibido de dirigir filmes por vinte anos, além de proibido de falar com a mídia e viajar ao exterior.  Sua acusação: “Ser conivente com a intenção de cometer crimes contra a segurança nacional do país e fazer propaganda contra a República Islâmica”. 

Se ele está impedido de dirigir filmes e escrever roteiros, não estaria impedido de ler roteiros, contar filmes e atuar.  Foi por aí que “Isto não é um filme” começou.  Ele chamou seu amigo e cinegrafista Mojtaba Mirtahmasb para ajudá-lo a registrar a história que queria contar.  Define o espaço de cena, a partir de demarcações no tapete da sala de seu apartamento, define a entrada e a saída do suposto quarto, as escadas, o local de uma cama, estabelece o posicionamento da câmera,um plano inicial para a janela, os movimentos da atriz que faria o papel, e pergunta sobre a iluminação necessária.  Como cineasta, concebe a sua forma de contar o filme.  E se dá conta de que não é possível.  Nas suas palavras: “Se podemos contar um filme, então, por que fazer um filme?”.

Enquanto aguarda pelo julgamento de um recurso num tribunal de apelação do regime, nos mostra o seu desespero, contido, mas desespero, de ter de se restringir ao espaço de seu apartamento/prisão, sem poder  filmar.  E sem grandes esperanças de reverter a sentença, ou reduzi-la, sem forte pressão internacional.  Segundo sua advogada, seria necessária uma pressão nacional, também.

O filme que não é um filme chegou ao Festival de Cannes 2011 dentro de um bolo, foi exibido no Festival de Toronto e teve os direitos de exibição comprados por uma distribuidora internacional para os Estados Unidos e Reino Unido.  Chega agora aos cinemas brasileiros, após ser exibido na 35ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Só para lembrar: Jafar Panahi é o diretor do filme “O balão branco”, de 1995, que foi sucesso no Brasil.  Dirigiu também “O espelho”, de 1998, e “O Círculo”, de 2000.  Todos ótimos filmes, que ganharam prêmios internacionais.  Ele conta com apoios, como os de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, Ang Lee, os irmãos Cohen, Sean Penn, Juliette Binoche, entre tantos outros.  Esperemos que apoios como esses possam reverter sua absurda situação no Irã.  Um possível êxito de “Isto não é um filme” também poderá ajudar.

2 comentários:

  1. Na verdade, um êxito de “Isto não é um filme” pode complicar ainda mais a situação de Panahi. O governo iraniano é intolerante com quem projeta no exterior uma imagem negativa do regime. Mostrar o seu cotidiano claustrofóbico em prisão domiciliar é motivo mais do que suficiente para irritar as autoridades daquele país. Boa sorte a ele.

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  2. Parece legal, assisti ao "O Balão Branco" e "O círculo" e adorei. Não tem nenhum filme iraniano que eu nao tenha gostado.

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