terça-feira, 19 de julho de 2011

LOLA

Antonio Carlos Egypto

LOLA (Lola). Filipinas, 2009. Direção: Brillante Mendonza. Com Anita Linda, Rustica Carpio, Tanya Gomez. 110 min.
Brillante Mendonza é um conceituado diretor filipino, já bastante conhecido e respeitado no circuito dos festivais internacionais de cinema, onde amealhou prêmios importantes. Aqui, seus filmes foram exibidos em sessões especiais e mostras, mas nunca chegaram ao circuito comercial. Isso acontece agora, com a entrada da Lume Filmes na distribuição de filmes para cinema. A Lume tem marcado uma significativa e importante presença na distribuição de filmes em DVD, resgatando filmografias pouco conhecidas e fitas marcantes da história do cinema. O seu primeiro lançamento em cinema é “Lola”, de Brillante Mendonza. Ótimo começo.

As primeiras imagens de “Lola” mostram uma senhora idosa com uma criança, num dia de chuva e vento, sem conseguir controlar o guarda-chuva, em busca de um lugar para acender uma vela. Esse lugar foi onde seu neto acabou de ser assassinado.


A avó é Lola Sepa (Anita Linda) e seu périplo ao longo do filme será para promover um funeral digno para o neto morto e buscar justiça. Ela e sua família são pobres, não dispõem de recursos, nem para as despesas do enterro, nem para abrir um processo legal contra o assassino. Sua casa está na água, lembrando as nossas palafitas, o único acesso é por barco, os espaços são mínimos. Mas, eventualmente, se podem pescar bons peixes dentro de casa mesmo. Há uma ótima cena mostrando isso.

Enquanto Lola Sepa, a avó do assassinado, busca ajuda na comunidade e até num empréstimo bancário, para viabilizar o funeral do neto assassinado, vamos conhecendo também Lola Puring (Rustica Carpio), a avó de Mateo, o assassino.

Mateo está preso e sua avó procura cuidar dele, levando-lhe comida na prisão, e está empenhadíssima em tirar o neto da cadeia. Mas não tem dinheiro suficiente para pagar a fiança, nem contratar advogado. Dependerá da defensoria pública. A família de Lola Puring vende legumes na rua, mas não tem registro para essa atividade e pode ter suas mercadorias apreendidas a qualquer momento. Ela faz de tudo para juntar dinheiro, visita parentes no interior e vende as mercadorias que ganha, empenha a única TV da casa, rouba no troco de um freguês e por aí a coisa caminha.

As duas avós, as duas Lolas, conduzem o filme, mostrando os dois lados desse assassinato banal: seu motivo foi o roubo de um celular. A vida das duas Lolas revela as agruras da pobreza e os dilemas morais que se colocarão a partir dessa carência. E, também, a fragilidade da justiça, quando o dinheiro não está presente. E, ainda, ao que pode conduzir toda essa debilidade social e institucional. A forma como o dilema das duas avós se resolve é muito bem construída, ao longo de toda a película, e saímos do cinema tendo muito o que pensar, a partir daquilo que vimos e do final tão eloquente que Brillante Mendonza nos reservou. É um cineasta de inegável talento, com grande sensibilidade para tratar de questões sociais, sem cair na obviedade ou no panfleto.

O fato de a história nos ser mostrada por meio das duas avós Lola é outro trunfo do filme. São mulheres idosas, mas fortes e determinadas, vividas por atrizes experimentadas, que nos levam a compartilhar suas histórias com absoluto realismo. O desempenho de Anita Linda merece destaque: sua Lola Sepa flui de uma forma tão natural e verdadeira, que emociona. Tudo é muito sutil e bem trabalhado nos personagens dessas avós-coragem.

“Lola” foi premiado como melhor filme nos Festivais de Cinema de Dubai e Miami, recebeu indicações de filme, direção e montagem, no Asian Film Awards, competiu no Festival de Veneza e em mais 20 Festivais Internacionais.

Vamos esperar que venham outros filmes de Brillante Mendonza, como “Kinatay”, de 2009, e “Serbis”, de 2008, para o circuito comercial. Seria uma forma de um público maior conhecer o cinema das Filipinas e esse grande cineasta da atualidade.

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