Antonio Carlos Egypto
MINHAS TARDES COM MARGUERITTE (La Tête en Friche). França, 2010. Direção: Jean Becker. Com Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus, Sophie Guillemin, Patrick Bouchitey. 82 min.
“Minhas Tardes com Margueritte” é daqueles filmes que acreditam nos sentimentos, no poder transformador das pessoas, na solidariedade humana e em que é possível encontrar gente boa, que ajude a enriquecer a nossa vida. Para alguns, ideias como essas não passam de otimismo irrealista ou ingenuidade. Estamos tão acostumados a crer que tudo vai tão mal, que só nos resta destilar críticas venenosas e exalar pessimismo. Ou fina ironia. Como se tudo já estivesse irremediavelmente perdido. Mas, definitivamente, isso não é verdade.
Em que pesem todos os condicionantes coletivos, a vida é também uma criação de cada um e podemos torná-la mais alegre ou mais bela, mesmo nas adversidades. Ou torná-la desesperançada, sombria. Isso se deve mais a fatores subjetivos do que aos aspectos objetivos da existência.
Germain (Gérard Depardieu) é um trabalhador braçal, cinquentão e iletrado, que leva sua vida de um jeito rude e concreto. Mas se relaciona com uma bela e jovem mulher, tem amigos que encontra no bar e se diverte. Tem lá seus traumas, já que não conhece o pai e sua mãe jamais lhe deu a atenção e o carinho que se espera de uma mãe. Por esse histórico de vida, e uma escola que piorou a coisa ao invés de ajudá-lo a se superar, ele se vê como uma pessoa ignorante e limitada. Ao longo do filme, ele descobrirá que seus talentos não só existem como podem valer muito para algumas pessoas.
Margueritte (Gisèle Casadesus) é uma senhorinha de 95 anos de idade, apaixonada por livros, pela literatura que nos revela o mundo e enobrece o espírito. É o que a mantém viva, apesar dos problemas de vista que a preocupam no momento. Ela vive numa casa de idosos de muito bom padrão, que sua família não poderá manter por muito tempo, por ser muito cara. É uma figurinha frágil, mas profundamente acolhedora.
Encontros fortuitos num banco de praça, à tarde, a propósito de nada, irão produzir um vínculo de amizade entre Germain e Margueritte, assim com dois t, por erro do escrivão ao registrá-la. Mas ela não se importa, afinal, isso a distingue das outras Marguerites.
O foco do filme é essa amizade e o que acontece com cada um deles, a partir daí. E de que forma um pode contribuir para que a vida do outro se torne melhor. Não é para isso mesmo que servem as amizades? A realidade pode ser menos dura, se se puder contar com um amigo na hora mais difícil ou complicada. Ela pode ser mais rica ou poética, se a literatura abrir novas frestas à nossa percepção e compreensão do mundo. O cinema pode fazer isso também: filmes como “Minhas Tardes com Margueritte” servem justamente a esse propósito. Sensibilidade não lhe falta. O tema é rico e relevante, os atores escolhidos para protagonizar a fita são excepcionalmente bons. A simplicidade é o seu trunfo.
A história contada linearmente, com flashbacks e sem complicações, torna o filme acessível a todos, de comunicação fácil. O que não significa que ele seja simplório ou raso. Algumas cenas das maldades perpetradas pela família e pela escola ao Germain criança podem ser consideradas clichê, aí falta sutileza. As cenas dos amigos de bar, que envolvem imigrantes, parecem um pouco idealizadas para a realidade europeia atual. Mas isso não tira o mérito da obra. É um belo filme sobre carinho e afeto, que emociona genuinamente. E exala um humanismo um tanto fora de moda e, talvez por isso mesmo, cada vez mais necessário.
domingo, 29 de maio de 2011
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O filme é lindo. Escrevi sobre ele aqui:
ResponderExcluirhttp://pt.shvoong.com/entertainment/movies/2172580-minhas-tardes-com-margueritte/
Abraços
É um filme emocionante! Mergulhei tanto na trama que chorei de emoção em vários momentos.Merece ser visto novamente.
ResponderExcluirecilia B.A.Moura 24/10/11