Antonio Carlos Egypto
O PECADO DE HADEWIJCH (Hadewijch). França, 2009. Direção: Bruno Dumont. Com: Julie Sokolowski, Yassine Salime, David Dewaele, Karl Sarafis. 120 min.
Noviças podem ter muitas dificuldades para se adaptar à vida de orações, sacrifícios e simplicidade de um convento. Há ainda a considerar a perda da liberdade e os desafios da fé.
No filme de Bruno Dumont, a protagonista, vivida pela atriz Julie Sokolowski, não tem esse problema. Ou melhor, tem o problema oposto: é tão fanática, que leva os sacrifícios ao extremo, negando a própria existência do corpo. Não come, não se protege do frio, reza de forma compulsiva. Vive alheia a tudo que não seja o seu “casamento” com Cristo e a adoração de sua imagem em martírio.
A coisa, evidentemente, extrapola os limites. Até mesmo das freiras. A superiora acaba concluindo que é melhor que ela passe um tempo fora do convento, convivendo com o mundo exterior. As portas estarão sempre abertas para ela, mas algo precisa mudar. Quem sabe, ao se conectar com o mundo, ela possa temperar a alienação em que se coloca. Deve ter sido esse o pensamento da personagem da madre superiora. Bem, pelo menos é o que o espectador pensará, a partir do que o filme mostra até ali.
A agora cidadã Celine vai buscar o que no “mundo”? A amizade de um rapaz, ou vários, por que não? Mas não carícias, sexo ou amor. É de Cristo que ela precisa e sente falta. Fisicamente, até. Afinal, os hormônios estão lá. Deve caber a Ele satisfazê-la.
É bem estranha, mas muito interessante a caracterização dessa personagem, sua alienação e loucura. Porque procura revelar os meandros do que vai pela mente das pessoas fanatizadas pela religião. Vale dizer, por qualquer verdade absoluta.
Os fanatismos se aproximam e Celine vai conhecer o lado islâmico dessa história. Uma espécie de fanatismo que soará até familiar a ela. E daí se desenvolverá uma trama densa e pesada, mas muito consistente. E assustadora.
O diretor Bruno Dumont, de quem vimos “A Vida de Jesus” e “Humanidade”, põe o dedo na ferida do fundamentalismo religioso e suas relações com a doença mental. Mostra a que podem chegar esses excessos e também o que eles podem estar encobrindo. Os riscos estão aí, por toda parte.
Ele conta a sua história, com as personagens principais bem delineadas, deixando em suspense o que vai acontecer, dando tempo para que observemos as ações, os desejos, a solidão, o vazio. O diretor parece ter especial interesse pelas personagens que vagam sem rumo, as que estão perdidas pelo mundo, desencontradas ou sem saber o que buscar. Seus outros filmes exibidos por aqui vão nessa linha.
Em “O Pecado de Hadewijch” seu foco foi muito firme numa questão importante do nosso tempo, revelada por personagens intrigantes. É um trabalho que, sem dúvida, merece atenção. O filme recebeu o Prêmio da Crítica, no Festival de Toronto de 2009.
O PECADO DE HADEWIJCH (Hadewijch). França, 2009. Direção: Bruno Dumont. Com: Julie Sokolowski, Yassine Salime, David Dewaele, Karl Sarafis. 120 min.
Noviças podem ter muitas dificuldades para se adaptar à vida de orações, sacrifícios e simplicidade de um convento. Há ainda a considerar a perda da liberdade e os desafios da fé.
No filme de Bruno Dumont, a protagonista, vivida pela atriz Julie Sokolowski, não tem esse problema. Ou melhor, tem o problema oposto: é tão fanática, que leva os sacrifícios ao extremo, negando a própria existência do corpo. Não come, não se protege do frio, reza de forma compulsiva. Vive alheia a tudo que não seja o seu “casamento” com Cristo e a adoração de sua imagem em martírio.
A coisa, evidentemente, extrapola os limites. Até mesmo das freiras. A superiora acaba concluindo que é melhor que ela passe um tempo fora do convento, convivendo com o mundo exterior. As portas estarão sempre abertas para ela, mas algo precisa mudar. Quem sabe, ao se conectar com o mundo, ela possa temperar a alienação em que se coloca. Deve ter sido esse o pensamento da personagem da madre superiora. Bem, pelo menos é o que o espectador pensará, a partir do que o filme mostra até ali.
A agora cidadã Celine vai buscar o que no “mundo”? A amizade de um rapaz, ou vários, por que não? Mas não carícias, sexo ou amor. É de Cristo que ela precisa e sente falta. Fisicamente, até. Afinal, os hormônios estão lá. Deve caber a Ele satisfazê-la.
É bem estranha, mas muito interessante a caracterização dessa personagem, sua alienação e loucura. Porque procura revelar os meandros do que vai pela mente das pessoas fanatizadas pela religião. Vale dizer, por qualquer verdade absoluta.
Os fanatismos se aproximam e Celine vai conhecer o lado islâmico dessa história. Uma espécie de fanatismo que soará até familiar a ela. E daí se desenvolverá uma trama densa e pesada, mas muito consistente. E assustadora.
O diretor Bruno Dumont, de quem vimos “A Vida de Jesus” e “Humanidade”, põe o dedo na ferida do fundamentalismo religioso e suas relações com a doença mental. Mostra a que podem chegar esses excessos e também o que eles podem estar encobrindo. Os riscos estão aí, por toda parte.
Ele conta a sua história, com as personagens principais bem delineadas, deixando em suspense o que vai acontecer, dando tempo para que observemos as ações, os desejos, a solidão, o vazio. O diretor parece ter especial interesse pelas personagens que vagam sem rumo, as que estão perdidas pelo mundo, desencontradas ou sem saber o que buscar. Seus outros filmes exibidos por aqui vão nessa linha.
Em “O Pecado de Hadewijch” seu foco foi muito firme numa questão importante do nosso tempo, revelada por personagens intrigantes. É um trabalho que, sem dúvida, merece atenção. O filme recebeu o Prêmio da Crítica, no Festival de Toronto de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário