Antonio Carlos Egypto
A FLOR DO DESERTO (Desert Flower). Inglaterra, 2009. Direção e roteiro: Sherry Hormann. Com Liya Kebede, Sally Hawkins, Timothy Spall, Juliete Stevenson. 124 min.
Waris Dirie, nascida na Somália, se tornou uma belíssima top model de grande prestígio internacional, contrariando o que o destino parecia ter-lhe reservado. “A Flor do Deserto” é um filme é baseado na autobiografia da modelo, que conta uma história por um lado, fascinante, por outro, grotesca, revoltante.
Nascida numa família de criadores de gado nômades, na Somália, aos 13 anos, Waris foi comprada por um homem de posses, de meia idade, com quem estava destinada ao casamento arranjado. Para fugir a essa sina, a mirrada menina atravessa o deserto a pé, durante vários dias, até chegar à casa da avó, em Mogadishu, capital da Somália. De lá, vai a Londres, trabalhar como empregada na embaixada do país, ficando assim protegida da guerra que assolava sua pátria. E conseguindo escapar da sina que rejeitava.
Apesar das enormes dificuldades por que passou, a sorte acabou chegando quando, numa lanchonete em que veio a trabalhar, sua beleza encantou um famoso fotógrafo de moda. E a Gata Borralheira virou Cinderela. Se fosse só isso, já seria fascinante, mas nada de novo. Todo mundo conhece os contos de fadas.
É a coragem de Waris em revelar toda sua história que faz toda diferença. Estimulada pela mídia a contar sua trajetória, ela fala do dia em que sua vida mudou e, para surpresa de todos, revela que tinha pouco mais de 3 anos quando isso aconteceu. Ela estava se referindo à extirpação de seu clitóris e o corte dos pequenos e grandes lábios de sua vulva, costurada sem qualquer cuidado ou assepsia, num ritual tribal, à espera do marido que lhe coubesse. Uma marca definitiva e grotesca. O máximo da opressão à mulher que se possa imaginar. Um horror! Não há justificativa possível em qualquer traço cultural de nação ou etnia para que se possa aceitar uma barbaridade dessas.
Waris Dirie acabou se tornando uma militante do combate à prática da mutilação genital feminina, ocupando posição na ONU para essa atividade. Essa bárbara tradição ainda persiste em alguns rincões do globo, infelizmente. Por isso é importante o papel que o filme exerce, ao divulgar essa história, colaborando nessa causa humanitária.
Dizer que “A Flor do Deserto” é, por isso, uma grande obra de arte seria exagero. Não é. Mas é um trabalho que merece ser visto, conhecido, debatido. E, de quebra, tem uma mulher lindíssima e boa atriz, no papel da top model Waris: Liya Kebede. Só a presença dessa moça já ilumina o filme e encanta. Mas, mais do que tudo, o tema abordado é de vital importância e merece a atenção de todos.
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