sexta-feira, 7 de maio de 2010

LUZES NA ESCURIDÃO


Antonio Carlos Egypto

LUZES NA ESCURIDÃO (Laitakaupungin Valot). Finlândia, 2006. Direção: Aki Kaurismäki. Com Janne Hyytläinen, Maria Järvenhelmi, Maria Heiskanen e Ikka Koivula. 80 min.

Os irmãos Kaurismäki (Mika e Aki) tornaram o cinema finlandês conhecido no mundo por meio dos grandes festivais de cinema internacionais. Abriram uma produtora própria na Finlândia e receberam alguns prêmios importantes.

No Brasil, seus filmes costumam ser exibidos regularmente nas Mostras Internacionais de Cinema de São Paulo, no Festival do Rio, mas pouco chegam ao circuito comercial. E, quando chegam, permanecem pouco tempo em cartaz.

Mika Kaurismäki, desde 1990, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde é proprietário do Mika’s bar, em Ipanema, segundo nos informa Rubens Ewald Filho, no seu “Dicionário de Cineastas”. O fato é que ele continua produzindo seus filmes finlandeses, com apoio de verbas de outros países europeus, mas tem feito fitas que abordam a nossa realidade, como “Moro no Brasil” e “Brasileirinho – Grandes Encontros do Choro” (2005) e um episódio do filme coletivo “Bem-vindo a São Paulo”, de 2004, iniciativa de Leon Cakoff.

Aki Kaurismäki, irmão mais novo de Mika, permanece vivendo e produzindo na Finlândia. Jornalista, crítico de cinema e roteirista, acabou se destacando como diretor em filmes como “Os Cowboys de Leningrado vão para a América” (1990) e na trilogia composta por “Nuvens Passageiras” (1996), “O Homem sem Passado” (2002) e “Luzes na Escuridão” (2006). Os personagens dessa trilogia estão sempre à margem das possibilidades e benesses da vida, fracassados, de uma forma ou de outra, tanto por seus comportamentos ou limitações quanto pelas barreiras e preconceitos sociais.

“Luzes na Escuridão” entra agora em cartaz nos cinemas de São Paulo e quem não conhece o estilo de Aki Kaurismäki seguramente vai estranhar. Mas vale a pena conhecer. Aqui, o protagonista é um guarda-noturno solitário e incapaz de reagir às mais profundas maldades que lhe possam fazer. Koistinen vê o sucesso à sua volta, o dinheiro, as mulheres, mas passa ao largo de tudo isso. Até que, quando a sorte parece lhe sorrir, a maldade humana mostra do que é capaz. É um filme sobre até onde pode chegar a crueldade humana diante de um tipo despreparado para reagir à altura.

E o que é o estilo de Aki Kaurismäki, a que me referi acima? As cenas são absolutamente secas, onde pouco se fala e pouco se mostra. Não há preparo nem explicações. Por isso, todas as atitudes soam estranhas, algo irreais, mais ou menos como um telefonema que dispensasse todos os alôs, quem fala, como vai, começando diretamente pelo tema a tratar e sem agradecimentos ou despedidas, ao final. Ou, ainda, uma carta ou texto sem justificativas ou qualquer introdução, nem conclusões.

As coisas se dão sempre abruptamente, sem preparo algum, e as reações são também secas, sem se deter nas emoções. Não se destacam nem a afetividade, nem a agressividade, enquanto tais. Elas existem de forma minimalista, estão implícitas.

Vou dar um exemplo de um outro filme dele: numa cena de bebedeira, alguns poucos planos podem mostrar alguém bebendo reiteradamente para, em seguida, o personagem desabar no chão, sem controle de si mesmo. Soa estranho, mas perfeitamente compreensível, e econômico.

Trabalhando assim, é possível fazer filmes sempre curtos, já que tudo o que é elemento complementar é cortado, para ficar só com o centro do problema, ou do comportamento do personagem. Nada acontece rapidamente, por paradoxal que possa parecer. Ao contrário, o ritmo é lento, mínimo, embora absolutamente direto. Para alguns, é tudo muito estranho, muito chato. Mas é possível apreciar tal estilo e reconhecer sua originalidade. É uma questão de gosto e de se dispor a isso.

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