sábado, 12 de setembro de 2009

UMA CANÇÃO DE AMOR



Antonio Carlos Egypto


UMA CANÇÃO DE AMOR (Les Chants des Marriées). França/Tunísia, 2008. Direção: Karin Albou. Com: Lizzie Brocheré, Olympe Borval, Najib Oudghiri e Simon Abkarian. 100 min.


“Uma canção de amor” é um título inadequado para o filme da diretora francesa (de origem judaica?), Karin Albou. Ele poderia ter sido chamado de “Canções de casamento” ou mesmo “As canções dos casados”, embora este último não seja bom em português. Pelo menos, estariam mais adequados a um filme que, por meio de duas jovens, aborda questões relacionadas ao afeto e ao casamento, ao mesmo tempo em que nos situa no contexto histórico e das diferenças religiosas na Tunísia, em plena Segunda Guerra Mundial.

As duas adolescentes, Nour e Myriam, uma muçulmana e outra, judia, convivem harmoniosamente, assim como suas famílias, no mesmo ambiente de moradia. São muito amigas e as diferenças de seus mundos mais as aproximam do que as separam. Como costuma acontecer, uma gostaria de ter o que a outra tem. A muçulmana Nour, por razões religiosas, não pode frequentar a escola e se desenvolver culturalmente como sua amiga e, é claro, gostaria de fazê-lo. A judia Myriam desejaria poder noivar e casar com quem ama, como está prestes a acontecer com sua amiga Nour.

Estamos na Tunísia, em 1942. O país é um protetorado francês, que só conquistará sua independência em 1956, mais de dez anos após o fim da Guerra Mundial. A França pode ser vista como opressora, principalmente pela comunidade muçulmana e por suas mulheres. Mas a França, a esta altura, está ocupada e os alemães invadem a Tunísia. Se, para os judeus, isto vai significar uma perseguição brutal e o fim de seu patrimônio acumulado, para os muçulmanos, os nazistas podem até parecer simpáticos, ao menos por algum tempo.

Em 1943, os aliados retomarão a Tunísia, mas até lá as duas amigas serão levadas a grandes mudanças de vida, que as colocarão em polos opostos. A amizade será posta à prova e precisará de muito empenho e confiança mútua para resistir a tal intempérie.

A vida das mulheres no judaísmo e no islamismo, nesse período histórico, na África muçulmana, no caso, sob o domínio francês (e, por um período, também alemão) será mostrada por meio da relação entre as duas amigas. E a narrativa conduzida por Karin Albou, ao assinalar as diferenças, acaba por sublinhar as semelhanças. As mulheres, tanto as judias quanto as muçulmanas, têm sua vida limitada e controlada, espaços reduzidos de ação e decisão, que as impossibilitam, por razões diversas, de alcançar a autonomia e a felicidade. Uma vida de sofrimento e opressão masculina, familiar, social e religiosa é o que as espera. As circunstâncias da guerra mundial servem para transformar o drama em tragédia, exacerbando os conflitos. Mas o destino, na realidade, não depende delas, embora, em algumas circunstâncias, possa caber a uma mulher a sorte de conviver com um homem bom que lhe coube aceitar e daí até nascer o amor. Mas é a roleta da sorte que determinará isso.

“Uma canção de amor” é um filme que trata das relações de gênero com um olhar feminino, sensível e competente. A diretora, em seu segundo longa-metragem, mostra-se capaz de abordar com sutileza e sem qualquer dose de moralismo ou de militância feminista a realidade da mulher que vive num mundo que a oprime e limita.

Ela já havia tratado da questão feminina na comunidade judaica de Paris, no seu primeiro longa “A pequena Jerusalém”, que agora pode ser visto em DVD. Num mundo onde a diversidade cultural, social e religiosa se impõe e exige que estejamos abertos a compreender e lidar com as diferenças, filmes como esses são importantes e atuais, mesmo que sua trama nos remeta ao distante 1942, como é o caso de “Uma canção de amor”. Mais do que um filme histórico, é uma película que nos ajuda a refletir sobre algumas questões fundamentais da atualidade.

Um comentário:

  1. por que tem que existir essas diversidades,tooodos nascem,vivem e morrem da mesma maneira,a vida é tão curta,onde tá a prova de que o masculino tem que pisa no feminino?o homem prega e muda as escrituras a seu favor, em muitos meios é a força que impera,daí a opressão aos mais fracos fisicamenteeee...abraços

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