sexta-feira, 27 de junho de 2014

O GRANDE HOTEL BUDAPESTE

Antonio Carlos Egypto





O GRANDE HOTEL BUDAPESTE (The Grand Budapest Hotel)Estados Unidos, 2013.  Direção e roteiro: Wes Anderson.  Com Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Saroise Ronan, Jude Law, Tilda Swinton.  100 min.



O mundo é um lugar estranho, cheio de figuras bizarras que compõem a fauna humana.  E recheado de histórias esquisitas, surpreendentes e, por isso mesmo, engraçadas.  Sempre foi assim.  Olhando para o passado com espírito crítico, e não apenas nostálgico, e fazendo uso da ironia, podemos entrar no curioso e original universo do cineasta norte-americano Wes Anderson, um dos mais criativos realizadores da atualidade.

“O Grande Hotel Budapeste” é um exemplo bem acabado do talento desse diretor.  É uma aventura cômica sobre uma Europa em mudança vertiginosa, no período entre as guerras mundiais, povoada por personagens que circulavam num daqueles grandes e suntuosos hotéis do passado, em que a hospitalidade e o requinte se destacavam.



O protagonista é Gustave H. (Ralph Fiennes), concierge do hotel, uma figura multifacetada, marcada pela gentileza, refinamento e generosidade.  Ao mesmo tempo, é uma pessoa insegura, carente, meticulosa.  De uma época romântica  em que a amizade, a honra e o cumprimento de promessas são valores a serem cultivados.

Quem também protagoniza essa história é Zero Moustafa (Tony Revolori, quando jovem, F. Murray Abraham, quando velho), mensageiro de confiança de Gustave H., que se torna seu amigo e acaba proprietário do hotel, agora já decadente.



Permeando essa relação, há uma história de amor e envolvimento sexual de Gustave H. com mulheres idosas, na casa dos 80 anos de idade, frequentadoras do hotel. Uma delas lhe deixa de herança um quadro renascentista valiosíssimo, “O Menino e a Maçã”, motivo de grandes confusões e perseguições com a família de Madame D.: Tilda Swinton, incrivelmente envelhecida.

Por aí vai essa deliciosa narrativa, que explora muita coisa: do crime à gastronomia, passando pela política e pelas relações humanas.  Tudo centrado no Grande Hotel que envolve todos os seus estranhos personagens, num país alpino imaginário, Zubrowska.  Os cenários do sofisticado hotel foram desenvolvidos num local que na verdade é uma grande loja, situada num ponto de intersecção da Alemanha, da Polônia e da República Tcheca, locação de rara beleza. 



Os figurinos, excepcionais, ajudam a criar os personagens e até nos fazem esquecer dos grandes atores e atrizes convocados para atuar no filme.  Mas é um elenco impressionante, que inclui, além dos já citados, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Edward Norton, Harvey Keitel, Jeff Goldblum, Jude Law, Bill Murray, William Dafoe, Léa Seydoux, Saroise Ronan, Tom Wilkinson, Jason Schwartzman e Owen Wilson.

Wes Anderson tem um humor muito característico, que se vale dessa reconstrução não para nos levar ao realismo, mas para acentuar o inusitado do contexto, da situação histórica e dos personagens bizarros.  A leveza do seu toque nos faz rir, ao mesmo tempo em que lida com temas e situações que nos levam à reflexão e a grandes emoções.  Movimentos de câmera rápidos enfatizam o ambiente, as reações, nos dão uma visão do todo, ampliando a percepção, e criam belas sequências de ação.



“O Grande Hotel Budapeste” é um filme de exceção, não só em relação à produção norte-americana atual, mas pelo estilo e originalidade raramente encontrados nos filmes que têm desaguado no mercado exibidor.  Em especial, quando se trata do gênero comédia, tão sujeito a apelações e grosserias, absolutamente ausentes do cinema inteligente de Wes Anderson 



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