FIM
DE FESTA. O carnaval acabou, mas enquanto, na
quarta-feira de cinzas, um grupo de jovens ainda vive a energia que restou da
euforia da festa, o pai de um deles, um policial, tem de voltar rapidamente de
seu descanso para investigar a morte de uma turista francesa em Recife. E tem de lidar com seu apartamento ocupado
pelos amigos do filho. Mais do que o
desvendar do crime, o filme FIM DE FESTA,
do pernambucano Hilton Lacerda, que já dirigiu “Tatuagem” em 2013, focaliza o
personagem do policial Bruno e a forma como ele encara as situações que se
apresentam. Irandhir Santos tem um
grande desempenho no papel desse policial, que parece viver uma ressaca, não
exatamente do carnaval, mas da vida, do seu trabalho ou do momento atual. Vemos como ele vai conduzir o caso, a
expectativa e reações dos familiares e suspeitos, mas também como se relaciona
com a homossexualidade do filho, a maconha, a folga dos jovens na sua casa e como ele enxerga sua própria
vida. Um retrato realista, nada
esperançoso. No elenco, Suzy Lopes,
Gustavo Patriota, Amanda Beça, Safira Moreira, Leandro Vila. Participações especiais de Hermila Guedes e
de Jean-Thomas Bernardini (da distribuidora Imovision e do Reserva
Cultural). FIM DE FESTA recebeu os prêmios de melhor filme e melhor roteiro
pelo júri oficial da última edição do Festival do Rio, 2019. 100 min.
FOTOGRAFAÇÃO, documentário de Lauro Escorel, de
2019, exibido no festival É TUDO VERDADE do ano passado, aborda a história da
fotografia, de seus grandes criadores e dos registros de imagens do Brasil, dos
pioneiros aos dias de hoje. Uma imagem
do nosso país, que vai se constituindo e se modificando, traduz a nossa
identidade coletiva e nos mostra quem somos e a solidez do que somos. Isso é importante frisar frente ao processo
anticivilizatório que tenta se impor a nós.
Escorel contrasta essa bela história com a profusão da fotografação
digital dos nossos dias e reflete sobre o impacto disso na sociedade
contemporânea. Ele tem grande
experiência e atuação como diretor de fotografia no cinema brasileiro. Tem, portanto, um olhar privilegiado e
amadurecido sobre o tema que escolheu para documentar. E o fez muitíssimo bem. 76 min.
DE QUEM É O SUTIÃ ? |
DE
QUEM É O SUTIÃ? (The
Bra), comédia alemã de 2018, dirigida por Velt Helmer, vai a uma região do
Azerbaijão acompanhar a vida de um solitário maquinista de trem habituado a
conduzir o veículo rente às casas, que estão tão próximas dos trilhos que
colocam cadeiras, põem roupas para secar no varal ali mesmo. Um garoto apita, avisando a chegada do
trem. Vai que um dia Nurlan, o
maquinista em vias de se aposentar, esbarra num varal e derruba um sutiã azul. Encontrar a dona da peça íntima pode lhe
trazer muitas emoções, constrangimentos e novidades. O filme é divertido, simpático, e tem uma
curiosidade: é todo sem diálogos. Não é
um filme silencioso, tem som e muito bem explorado, mas não tem falas. E olhe, não faz falta. Lembram-se dos filmes “O Ilusionista” e “O
Homem da Linha”, do diretor holandês Jos Stelling? Vai por aí.
Afinal, cinema é, antes de tudo, imagem.
No elenco, Miki Manojlovic, Paz Vega, Chulpan Khamatova, Denis Lavant,
Maia Morgenstern. 90 min.
AS
INVISÍVEIS (Les Invisibles), dirigido por
Louis-Julien Petit, de 2018, trata de mulheres em situação de rua, recém-saídas
da prisão ou fugidas da família por conflitos, sem emprego e sem a mínima
condição de competir no mercado de trabalho.
Elas estão num abrigo para mulheres sem teto, aos cuidados de
assistentes sociais dedicadas, mas que encontram dificuldades de toda a ordem,
legais, burocráticas, e da própria incapacidade de adaptação daquelas a quem
atendem. São muitas personagens, falta
um pouco de contexto para quem não conhece a situação francesa, mas é um mergulho
interessantíssimo na vida dessas mulheres.
O que é contado com dramaticidade, mas também com muito humor. Isso
torna o filme mais atraente e menos pesado.
Por exemplo, uma personagem que busca trabalho faz questão de contar a
todos os possíveis empregadores que esteve na prisão, porque quer ser
absolutamente honesta e não mentir. O
que, obviamente, complica as coisas, visto que o preconceito contra
presidiárias é enorme. Como convencê-la
de, ao menos, omitir essa informação? No
elenco, Patrícia Mouchon, Koukha Bonkherbache, Bérangère Toural. 102 min.
LEMBRETE
- Já fiz a crítica do
filme O OFICIAL E O ESPIÃO (J’Accuse) quando do prêmio César, que
realmente escolheu Roman Polanski como diretor, apesar dos protestos. O filme merece ser visto e entra em cartaz
agora, no dia 12 de março. A crítica
pode ser acessada aqui.
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