MARTIN
EDEN (Martin Eden). Itália,
2019. Direção: Pietro Marcello. Com Luca Marinelli, Carlo Cecchi, Jessica
Cressy, Marco Leonardi, Vincenzo Nemolato. 129 min.
“Martin Eden”, uma fascinante história
do escritor norte-americano Jack London (1876-1916), com elementos
autobiográficos, deu origem a um filme italiano que discute questões
atualíssimas. Essas questões dizem
respeito às relações entre as classes sociais refletidas pela literatura, à
relação desta com o mercado editorial, à liberdade de expressão, à natureza da
criação, ao compromisso ético do escritor consigo mesmo e com suas crenças
políticas e responsabilidades sociais, ao papel do indivíduo nas transformações
socioculturais e políticas.
O veículo para expressar os
questionamentos é o personagem título do filme, o escritor Martin Eden,
mostrado na complexidade necessária para abranger as diversas dimensões de sua
experiência concreta, de suas angústias, contradições, de seu ativismo
inspirado na leitura de Herbert Spencer (1820-1903), de suas relações com
anarquistas e comunistas, de seu desenvolvimento como escritor a partir de uma
vida de baixa renda, mirando a classe alta, tentando ser como eles. Da forma como lidará com o sucesso tão
buscado, mas, ao mesmo tempo, tão massacrante.
O contexto histórico é o do período
anterior à Primeira Guerra Mundial, de grande efervescência cultural, propício
à conquista de espaços e descobertas incentivadoras, mas tenso, conflitivo. O foco do filme, porém, coerentemente com as
teses de um chamado darwinismo social de Spencer, está no indivíduo, na sua
batalha pessoal frente aos demais e à coletividade. As sociedades se desenvolveriam a partir da
realização individual de forma positivamente evolutiva. Isso está no modo de ser do personagem,
embora enfatizando mais o mistério do que o progresso inexorável. Mais a crise do que o otimismo.
No papel do escritor Martin Eden está
Luca Marinelli, um grande ator que mergulhou intensamente na atuação e
conseguiu expressar muito bem as muitas faces, fases, sentimentos e pensamentos
do personagem. Teve o reconhecimento por
essa brilhante performance, conquistando o prêmio de melhor ator no Festival de
Veneza, no ano em que Joaquin Phoenix levou tudo pelo papel em “Coringa”. Marinelli foi o único a conseguir vencê-lo,
ao menos uma vez. “Martin Eden” foi bem
recebido e premiado nos Festivais de Veneza, Toronto, Sevilha, e no Festival do
Rio.
A direção de Pietro Marcello imprime a
”Martin Eden” uma dinâmica e uma força envolvidas por belas sequências que
mesclam imagens ficcionais e documentais e, claro, alimentadas pelo desempenho
criativo de Luca Marinelli, que está em todas as cenas, garantindo o filme com
seu talento. O elenco de apoio também
está muito bem dirigido, sustentando a trama.
É verdade que o cinema italiano da
atualidade não consegue competir com o grande cinema italiano do passado, mas
isso não significa que não haja belos trabalhos a apreciar. “Martin Eden” é um deles.
Gostei bastante da crítica!!! Detalhada, deixando desejo de assistir!!!! Vou ficar atenta.
ResponderExcluirMaria Navarro