Antonio Carlos
Egypto
LOU (Lou
Andreas-Salomé). Alemanha,
2016. Direção e roteiro: Cordula
Kablitz-Post. Com Katharina Lorenz, Nicole Heesters, Liv Lisa Fries,
Julius Feldmeier, Alexander Scheer, Philipp Haub. 113 min.
“Lou” é uma cinebiografia da intelectual Lou
Andreas-Salomé, nascida em 1861, em São Petersburgo, na Rússia. Mas que viveu toda sua vida na Alemanha, falecendo
em 1937. E que vida! Filósofa, romancista e, depois, psicanalista,
foi uma revolucionária em tempos de descobertas e mudanças, o final do século
XIX e início do XX.
Atuando sempre fora dos padrões e das
expectativas sociais, Lou foi uma mulher que escandalizou seu tempo, nas
questões de gênero. Seu comportamento
público era totalmente surpreendente para uma mulher daquela época. Basta dizer que ela manteve, por um bom
tempo, um convívio a três, com os filósofos Friederich Nietzsche e Paul Rée,
influenciando e sendo influenciada por eles, intelectualmente, sem sexo, sem a
menor intenção de casar ou ter filhos com nenhum deles, ou com qualquer outro. Era uma figura forte, porque também se
dedicava intensa e prioritariamente aos estudos, o que lhe deu uma dimensão
intelectual fantástica.
Encontrou em Rainer Maria Rilke, o jovem poeta
e escritor, um envolvimento maior. Ele
era uma figura que incorporava o feminino em si mesmo e essa foi uma das coisas
que a encantou, segundo se vê no filme “Lou”.
Fez análise com ninguém menos do que Sigmund Freud, com quem aprendeu e
desenvolveu trabalhos na área nascente da psicanálise.
Aos 72 anos de idade, se vale do jovem
filólogo Ernst Pfeiffer para escrever suas memórias e, mais uma vez,
impressionar um homem importante. O filme “Lou” conta essa experiência, a da
construção das memórias contadas e ditadas ao filólogo. E, na forma de flashback, ela repassa sua história, escolhendo e selecionando o
que lhe interessa contar. Essa forma
acaba sendo bem convencional e não muito atraente. Mas a história contada, a de Lou, essa é
impactante.
Três atrizes vivem a vida de Lou, em
diferentes etapas: Liv Lisa Fries, na adolescência, que desponta para o novo,
Katharina Lorenz, em todos os episódios da vida adulta, narrados por Nicole
Heesters, a Lou aos 72 anos.
O elenco masculino traz personagens um tanto
complicados de interpretar: o delicado e
apaixonado Rilke, o superbigodudo Nietzsche, o filósofo Rée, desejando e
engolindo uma situação que o incomodava, o escritor Pfeiffer, jovem apaixonado
por uma mulher já idosa, e o discreto e imponente Freud, como analista. Todos grandes homens, de certo modo, a
serviço dessa grande mulher. As
caracterizações desses personagens deixam um tanto a desejar, mas o trabalho da
diretora Cordula Kablitz-Post consegue envolver pela força de um relato pouco
conhecido de uma figura feminina que merece ser resgatada, pela importância
histórica que tem.
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