Antonio
Carlos Egypto
A GANGUE (Plemya). Ucrânia, 2014. Direção e roteiro: Myroslav
Slaboshpytskiy. Com Grigory Fesenko,
Yana Novikova, Rosa Bably, Alexander Dsiadevish, Yaroslav Biletsky. 132 min.
Na 38ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo,
está sendo exibido o filme vencedor do grande prêmio da crítica no Festival de
Cannes, o ucraniano “A Gangue”.
Trata-se de um filme sem diálogos, sem narração nem
legendas. Na verdade, há diálogos, sim. Poucos, mas há. Só que eles se dão na linguagem dos
sinais. O universo tratado é o dos
surdos-mudos. Você pode me perguntar: mas
dá para assistir a um filme assim, sem entender a linguagem dos sinais? Na realidade, sim. Perfeitamente. Os diálogos parecem ser banais,
corriqueiros. Pelo menos, é o que eu
suponho. E as imagens, os sons ou a
ausência deles, suprem muito bem o que está acontecendo.
A dificuldade
em ver o filme é de outra ordem. É que
ele é pesado, carregado, pessimista.
Relata um mundo opressor, hostil e criminoso, que parece refletir a
realidade atual da Ucrânia, em grave crise e confrontos com a Rússia.
Em todo caso, aqui o ambiente retratado não é o macro do país, mas o microcosmos de um
internato para surdos-mudos, onde visceja o crime e a prostituição entre os
estudantes, a denominada tribo.
Sergey, um jovem surdo-mudo que vai parar nesse
internato, é forçado a seguir as regras do grupo, praticando assaltos e
agenciando meninas na prostituição. Ele
próprio está descobrindo a sexualidade, mas tudo se dará no contexto dessa
gangue que domina todo o ambiente.
Enquanto ele fizer o jogo exigido, terá sobrevivência garantida. Mas a hora em que ele violar qualquer regra,
ainda que informal, não explicitada, o céu cairá sobre a sua cabeça, como dizia
aquele personagem dos quadrinhos de Asterix: o chefe Abracurcix.
“A Gangue” é um filme duro, desencantado, mas que
apresenta um amplo domínio do primado da imagem. Por isso, a gente vive com o personagem
Sergey e seu mundo silencioso todas as vicissitudes da sua chegada, rejeição e
adaptação a esse ambiente criminoso juvenil, acompanha suas descobertas do amor
e do ódio. E da sordidez humana, já tão
estabelecida em pessoas jovens.
Em 132 minutos, que se veem com interesse, o filme
mostra sua força e, claro, originalidade: contar essa história do ponto de
vista de um garoto surdo-mudo. A trama
não é novidade, outros filmes vindos da Rússia e da Ucrânia têm abordado esse
desencantado mundo em que a violência e o crime dão as cartas impunemente. Mas é o primeiro que o faz só por meio da
imagem e da linguagem dos sinais.
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