quarta-feira, 9 de outubro de 2024

INVERNO EM PARIS

Antonio Carlos Egypto

 

 


INVERNO EM PARIS (Le Lycéen).  França, 2022.  Direção e roteiro: Christophe Honoré.  Elenco: Paul Kircher, Juliette Binoche, Vincent Lacoste, Erwan Kepoa Falé.  123 min.

 

Lucas (Paul Kircher), jovem gay de 17 anos, estudante do ensino médio (Lycéen), no interior da França, vive o chamado turbilhão emocional da adolescência.  Desde o início do filme, ouvimos os seus pensamentos e, por meio deles, ele expressa seus temores, dúvidas, motivos para autodepreciação, seus impulsos caóticos e imprevisíveis, suas frustrações, seus desejos, nem sempre claros.  Enfim, é dessa forma que o filme nos introduz no universo de Lucas.  Um universo que comporta uma mãe amorosa, vivendo as emoções com muita intensidade: Isabelle (Juliette Binoche), um pai próximo, presente, vivido pelo próprio diretor, e um irmão mais velho, Quentin (Vincent Lacoste), já radicado em Paris.

 

No último ano de internato, Lucas tem de enfrentar a morte, por acidente, do pai, o que desmorona sua vida.  No entanto, ele vai experimentá-la com intensidade, hospedando-se com o irmão, no inverno em Paris, logo após o luto, onde descobre que o amor e o desejo podem emergir dos contextos mais sombrios.  Mas que tudo tem seu preço, seus limites, seus riscos, suas consequências.

 

O jovem Paul Kircher entrega-se no papel de Lucas com uma dedicação e uma expressividade que já lhe valeram prêmios de ator em festivais, como o de San San Sebastián e Veneza. 

 


Juliette Binoche esbanja vibração emocional, humanidade e sofrimento, com uma intensidade e profundidade só possíveis para atrizes muito tarimbadas.  A força do seu desempenho é admirável.  Vincent Lacoste e Erwan Kepoa Falé integram um elenco que apresenta atuações consistentes, brilhantes.  É um dos grandes trunfos do filme de Christophe Honoré. 

 

Outro é a verdade da história, a sensibilidade para apresentar sentimentos e conflitos humanos verdadeiros.  É um filme que trata de amor, afeto e desejo, sem clichês, sem se valer da forma melodramática.  Por isso mesmo, o filme nos leva pela empatia diante de questões, como a depressão, o mutismo ou a expressão exacerbada da sexualidade como respostas frente a um sofrimento sem tamanho.

 

Chistophe Honoré reafirma, uma vez mais, sua capacidade de lidar com questões emocionais intensas, que têm marcado sua produção cinematográfica.  Basta lembrar de filmes como “Canções de Amor” (2007), “A Bela Junie” (2008) ou “Conquistar, Amar e Viver Intensamente” (2018), entre tantos outros trabalhos dele como diretor e roteirista de cinema.





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