Antonio Carlos Egypto
MEMÓRIA (Memoria). Colômbia/Reino Unido, 2022. Direção e roteiro: Apichatpong
Weerasethakul. Elenco: Tilda Swinton,
Juan Pablo Urrego, Elkin Diaz, Jeanne Balibar, Daniel Giménez. 136 min.
O conceituado
diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, também conhecido por Joe, por
sugestão dele mesmo, já que seu nome é impronunciável, lança agora pela
primeira vez uma produção fora da Tailândia. O filme “Memória” é uma realização da Colômbia
e do Reino Unido. Seu universo, que
compreende drama e ficção científica, no entanto, é marcadamente uma obra
pessoal do diretor. Tem os elementos
inusitados que caracterizam, desde sempre, o seu trabalho e deixam um sentido,
digamos, oculto. Misterioso em sua
narrativa, que não chega a se revelar por inteiro, mesmo ao final do
filme. É o espectador que fará sua
síntese, após ter sido provocado por estímulos diversos e, quiçá,
contraditórios. Inteligentemente
explorados em diversas dimensões.
Vamos tentar
dizer, então, de um modo mais compreensível aquilo que as imagens mostram. E, no caso desse filme, sobretudo, o que os
sons expressam. O trabalho de som é um
dos grandes trunfos do filme. Melhor
assisti-lo num cinema com ótima qualidade de som, para desfrutar do impacto.
A memória pode
trilhar caminhos que passam de uma pessoa a outra e ao longo da história de um
indivíduo ou de um povo, ou de uma interação entre os indivíduos, suas
histórias pessoais, a cultura e as tradições de seu ambiente, natural e
histórico.
Tudo começa com um som estrondoso na cabeça de Jéssica (Tilda Swinton), que a faz levantar na noite escura e daí para a frente dificultará permanentemente seu sono. Sentir-se acordada, mas não conseguir se mexer, associado ao som explosivo, é a doença que acomete a personagem. Acompanhamos Jéssica em seu périplo por diferentes lugares e situações, na cidade de Bogotá e na floresta, em busca de alcançar domínio sobre o que está lhe acontecendo.
Diante de uma
mesa de som, um engenheiro a ajuda a encontrar o som preciso que a acomete,
algo como uma bola de concreto batendo numa parede de metal, cercada por água
do mar. Mas é também um estrondo vindo
do centro da terra. Que tal?
E se ela
descobrir depois que o engenheiro de som já estava morto, ou melhor, que ele
pode reaparecer no futuro sem memória?
Entenderam? Provavelmente não. No entanto, deixem-se levar pela onda dos
acontecimentos, curtam a eficiência da imagem, a onipresença de um som que
praticamente conduz a trama e apreciem o talento inquestionável da atriz Tilda
Swinton, em mais um grande trabalho, em que ela também aparece como produtora
do filme.
O nosso grande
Joe é um dos cineastas mais criativos e inventivos do cinema mundial
atual. Mistura questões ancestrais,
etnográficas, culturais, a elementos científicos atuais e futuristas,
mergulhando num terreno espiritual que incorpora visões e fantasmas de vidas
passadas e projeções futuras. É muito
rico vivenciar o que seus filmes têm a nos mostrar, mas é preciso mergulhar num
terreno pantanoso que não traz perigo nem violência. Ao contrário, traz um mundo mental amoroso e
delicado. Só que não é fácil de decifrar
ou de andar nele. É caminhar no
pântano. Às vezes não dá para chegar a
lugar nenhum. Em todo caso, depende de
cada um essa caminhada.
Para quem não
entrou em contato com outros filmes do diretor, recomendo “Tio Boonmee, que
pode recordar suas vidas passadas” (2010) e “Cemitério do Esplendor” (2015),
que têm críticas postadas aqui no Cinema com Recheio.
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