Antonio Carlos Egypto
ELA E EU. Brasil, 2021.
Direção: Gustavo Rosa. Elenco:
Andrea Beltrão, Eduardo Moscovis, Mariana Lima, Lara Tremouroux, Karine Teles,
Jéssica Ellem. 101 min.
“Ela e Eu” nos fala da adaptação a
eventos inesperados e raros sobre os quais não temos controle ou possibilidade
de prever ou fazer planos, segundo o diretor Gustavo Rosa.
Que situação é a que se apresenta no
filme? É a condição de Bia (Andrea
Beltrão), que no parto de sua filha entrou em coma, por vinte anos, fazendo
parte da família como uma bela adormecida, cuidada por todos, inclusive por uma
cuidadora profissional, Sandra (Karine Teles).
Consta que ela seria uma ex-roqueira, o que tem pouca relevância no
caso. Seu marido, Carlos (Eduardo
Moscovis), sua nova mulher, Renata (Mariana Lima) e Carol (Lara Tremouroux), a
filha que cresceu vendo a mãe sempre dormindo, compõem esse núcleo familiar que
teve de se organizar de um modo que permitisse conviver com Bia no estado passivo
e lhe devotando os devidos cuidados.
Também faz parte da história a namorada de Carol, Giovana (Jéssica
Ellem), caracterizando uma relação amorosa de uma universitária branca com uma
mulher negra, a mostrar que essa família não cultiva preconceitos. No entanto, a importância desse vínculo na
narrativa é quase nula. Funciona como
símbolo de modernidade. Assim como um
médico negro que surge numa única cena, que parece existir apenas para
ressaltar uma mensagem antirracista do filme.
Penduricalhos à parte, a questão maior
se coloca quando Bia sai do coma, volta à vida ativa, vinte anos depois. Isso vai exigir uma nova adaptação a uma
realidade inesperada ou, pelo menos, imprevista quanto ao tempo. Todos, de alguma forma, terão de se
reinventar e Bia, reaprender a viver, redescobrindo sensações, situações,
sentimentos, palavras e expressões, numa constante de novas descobertas, das
coisas mais simples às mais estranhas para suas possibilidades atuais. Tudo vai mudar novamente, na vida de
todos. Não é fácil!
O destaque maior vai, com certeza, para
a atuação de Andrea Beltrão que, ao longo do filme, mas especialmente na
primeira parte, tem de representar inerte, muda, pelo olhar, pelo piscar dos
olhos, por pequenos movimentos. E depois
ser uma espécie de adulta-bebê ou adulta-criança. Um papel que exige muito dela e que ela
realiza com talento admirável.
A trilha sonora do filme é bem elegante
e charmosa, a cargo de Lucas Santanna e de canções de Chico Buarque, Caetano
Veloso, que canta a música título Ela e
Eu, entre outros.
Entre os destaques da filmagem, os
momentos do acordar de Bia, com imagens que oscilam em nitidez e falta de foco
e o uso do som, reverberando sem clareza, merecem atenção. E as imagens do filme nos reafirmam que o Rio
de Janeiro continua lindo, apesar dos enormes problemas que o cercam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário