terça-feira, 26 de julho de 2022

BOA SORTE, LEO GRANDE

   Antonio Carlos Egypto


 


 

BOA SORTE, LEO GRANDE (Good luck to you, Leo Grande), Reino Unido, 2022.  Direção: Sophie Hyde.  Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland.  97 min.

 

Dois personagens compõem a trama de “Boa Sorte, Leo Grande”.  Nancy (Emma Thompson), viúva na casa dos 60 anos, foi professora de religião no ensino médio. Está aposentada, e em busca do orgasmo, faz uma aposta arriscada.  Contrata, por meio de firma na Internet, um garoto de programas.  O profissional do sexo, entre 20 e 30 anos, é Leo Grande (Daryl McCormack), habituado a atender parceiros de todas as idades e disposto a satisfazer seus desejos e fantasias, sem drama.

 

O que para Leo é uma rotina conhecida para Nancy é um tabu, uma situação embaraçosa, que ela quer viver, mas sente culpa e tem medo.  Para ambos, trata-se de uma situação protegida pela impessoalidade de um quarto de hotel e de identidades verdadeiras não reveladas.  Uma atuação, enfim. Como sempre, porém, nos relacionamentos humanos, eróticos ou não, as coisas sempre tomam rumos não previstos.  E será preciso lidar com isso, de alguma forma.

 

O filme inteiro é a relação desses dois personagens em quatro encontros, no mesmo espaço, o mesmo quarto de hotel.  Exceto em uma das sequências em que a ação se dá no café do mesmo hotel, envolvendo uma garçonete, tudo se passa no contexto de uma peça teatral, num único cenário com uma atriz e um ator.  Uma peça fácil de montar, por sinal.


 



Busquei nas informações sobre o filme se sua origem era mesmo uma peça teatral, mas isso aparentemente não se confirmou.  O texto e roteiro do filme foram escritos por Katy Brand, atriz e escritora britânica ligada à comédia, principalmente.  É fato que o filme explora o humor da situação, de forma comedida e com leveza.  Mas não há como evitar o drama presente naquele contexto, à medida em que a relação se desenvolve.

 

A diretora é a australiana Sophie Hyde, que mostra sensibilidade para as questões da personagem feminina, sem julgá-la ou caricaturizá-la.  Tal como o personagem Leo Grande, que se surpreende com algumas coisas, mas cumpre seu papel e até projeta suas próprias questões no que Nancy poderia representar para ele, assim como sua mãe e sua história de vida oculta.

 

É, portanto, um filme de mulheres, da concepção às tomadas de cena.  E, apesar da sua evidente teatralidade, os diálogos e a forma como a narrativa avança mantêm o interesse e trazem vários aspectos de reflexão relacionados ao assunto escolhido, que o extrapolam e o enriquecem.

 

Claro que as atuações de Emma Thompson, talentosa e experiente atriz, e a boa química que se estabeleceu com o jovem e bom ator Daryl McCormack são fundamentais para que “Boa Sorte, Leo Grande” funcione bem.  Tal como acontece no teatro, depende muito dos atores e atrizes o êxito de uma apresentação.  É o que se dá, aqui, no cinema.






 

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