segunda-feira, 12 de abril de 2021

MULHERES EM AÇÂO

Antonio Carlos Egypto

 

As mulheres estão na luta por toda parte.  Estudando, trabalhando, se posicionando, partindo para a ação com coragem, sem esmorecer.  Esbanjando solidariedade e ternura.  O festival internacional de documentários É TUDO VERDADE 2021, como não podia deixar de ser, tem mostrado isso claramente.  Já citei aqui a figura da jornalista Maria Ressa, nas Filipinas, que enfrenta e sofre as consequências do regime opressor de Duterte, como o mostrado no filme “Mil Cortes”.

 

Gostaria de destacar agora o papel das mulheres e suas lutas em dois outros documentários muito interessantes.

 



9 DIAS EM RAQQA, filme francês, dirigido por Xavier de Lauzanne, 88 min,  nos leva à tragédia da região da Síria, que foi ocupada pelo ISIS, o autodenominado Estado Islâmico, e da coragem feminina a quem está destinado reconstruir a cidade de Raqqa.

 

Leila Mustapha, engenheira, de 30 anos, é a prefeita da cidade de Raqqa, no norte da Síria, que foi a base operacional do chamado Estado Islâmico, sua “capital”.  Ela e um grupo de mulheres, incluindo as de formação militar, tomaram para si a missão de reconstruir uma cidade em escombros, economicamente destruída, após a derrota do ISIS.  Essa missão envolve promover a união e a reconciliação de todos e garantir a democracia, superando essa opressão sem limites que a cidade viveu. Vocês devem se lembrar dos assassinatos, decapitações, humilhações impostas ao povo, em especial às mulheres, destituídas de qualquer direito humano, sob o domínio desse tal Estado Islâmico.

 

Uma escritora francesa ficou muito interessada em conhecer Leila e se propôs a escrever um livro sobre ela e sua inacreditável missão.  Para isso, se dispôs com coragem a atravessar o Iraque e a Síria e passar nove dias na cidade, mesmo sabendo de perigos iminentes, como as minas terrestres espalhadas que ainda estão por lá, sem falar nos militantes clandestinos do ISIS que podem voltar a agir por meio do terrorismo, a qualquer momento.  A própria prefeita tem forte segurança e se cuida em todos os seus deslocamentos, procurando ficar pouco tempo em cada lugar.

 

O que o documentário mostra é essa viagem e os contatos mantidos entre a escritora e a prefeita, ao mesmo tempo em que mostra alguns resultados da reconstrução paulatina da cidade, exibidos e explicados por Leila Mustapha.

 

Em Raqqa, a esperança e os novos tempos, que já acontecem, têm cara e jeito de mulher.  Embora os homens também colaborem, evidentemente.  Mas elas estão à frente de tudo.

 



VICENTA, documentário argentino, dirigido por Darío Doria, 69 min, discute a questão do aborto legal no país, com uma abordagem, no mínimo, curiosa.

 

O caso real relatado é apresentado por meio de figuras fixas, bonecos moldados por massinha, sem movimentação, ou seja, não é uma animação.  A voz de uma narradora descreve o caso, passo a passo, dirigindo-se a Vicenta, a mãe de uma jovem de 19 anos com deficiência mental, de quem veremos a imagem real ao final do filme.  Essa jovem, Laura, foi abusada sexualmente por um tio, de quem engravidou, sem ter noção do que fazia e sem ter noção da sua gravidez.  O que ela nunca realizou, alienada do que estava se passando com seu corpo.

 

VICENTA narra o périplo vivido em busca da interrupção dessa gravidez, legalmente prevista na Argentina, mas inviabilizada na prática pela burocracia, pelos trâmites legais e médicos.  Considere-se que determinados valores morais e religiosos se imiscuem nas decisões judiciais, impedindo, até pelo decurso do tempo, que a solução pretendida ocorra.  É como se o Estado empurrasse as pessoas ao ato clandestino, deixando suas cidadãs pobres à mercê de suas próprias possibilidades.

 

O filme mostra também os desdobramentos desse caso, que resultou num processo judicial movido por Vicenta, uma mulher analfabeta, contra o Estado.  E o que a união de mulheres que se apoiam e se solidarizam pode acabar produzindo de conquistas, não imaginadas inicialmente. O documentário assume sua militância feminista na causa e denuncia o processo hipócrita, que estabelece direitos, mas não possibilita sua efetivação.

 

www.etudoverdade.com.br

 

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