quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

VICE + OSCAR 2019

Antonio Carlos Egypto


VICE (Vice).  Estados Unidos, 2018.  Direção e roteiro: Adam McKay.  Com Christian Bale, Emy Adams, Steve Carrel, Sam Rockwell.  132 min.

Após os ataques terroristas sofridos pelos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, o país entrou em estado de guerra.  Mas guerra contra quem?  Pesquisas indicavam que grande parte da população só entendia a  guerra contra algum país.  Era preciso nomear o inimigo.  Simples.  O vice Dick Cheney teria decidido eleger o Iraque de Saddam Hussein para invadir, criando a mentira das armas de destruição químicas que lá existiriam.  Uma escolha fácil de ser aprovada pelo presidente George W. Bush, ainda mais com a cobiça por tanto petróleo.  Ninguém se importando com a democracia, muito menos com o respeito aos princípios de não-intervenção, nem com as vidas humanas aí envolvidas.


VICE

Essa é uma das muitas sequências de “Vice”, escrito e dirigido por Adam McKay.  Por meio dela, pode-se sentir por onde andará o filme que pretendeu fazer uma cinebiografia de um político abominável, poderoso e controverso, como Dick Cheney.  O tom é satírico, irônico, às vezes dramático, às vezes cômico.  Mas, na verdade, trágico, porque o que estava envolvido na política norte-americana e mundial daquele período não era outra coisa.  E não melhorou nada, diga-se de passagem.

Sabemos nós muito bem da importância que pode ter um vice-presidente na história da República.  É só lembrar de João Goulart, José Sarney, Itamar Franco, Michel Temer.  E Dick Cheney jamais se queixaria de ser um vice decorativo.  Ele negociou sua entrada na chapa de Bush, desde o primeiro momento, garantindo amplos poderes.  E, segundo o filme, dominou o governo e o presidente, deixando um legado lamentável.  Lembra os seus dias de fracasso e alcoolismo, antes de encontrar seu caminho na política.  O que foi feito de forma fortuita e pragmática, nem de leve sustentado por eventuais bandeiras ideológicas do Partido Republicano.  Não lhe faltaram mestres nessa cultura do cinismo e do interesse próprio.  Mas, muitas vezes, os alunos superam seus mestres.

Christian Bale está muito bem, quase irreconhecível, como Dick Cheney, em diferentes épocas da vida do personagem.  Já levou o Globo de Ouro como melhor ator (comédia ou musical) e está cotado para o Oscar 2019.  O filme tem, no total, 8 indicações.  Não é o meu favorito.  “Roma”, de Alfonso Cuarón, e “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, têm muito mais méritos, mas quem disse que o Oscar se mede pelo mérito?

A FAVORITA
A FAVORITA, (The Favourite), direção do cineasta grego Yorgos Lanthimos, com Emma Stone, Olivia Colman, Raquel Weisz, Nicholas Hoult, é uma produção de época com filmagem sofisticada, hiperbólica, mas visualmente muito bonita e que adentra o terreno do reino inglês em guerra com a França, mostrando não só ambientes, comportamentos, roupas, mas sobretudo o perverso jogo amoroso e de poder.  Uma rainha, sua dama favorita e uma serva que decaiu da condição que já teve de dama, travam uma disputa de luxúria e destruição, que escancara as entranhas da monarquia britânica do início do século XVIII.  Passa longe das edulcoradas narrativas que glamourizam uma vida que, segundo o filme, tem sordidez de sobra.  Boa trilha musical e um trabalho de som que, por sua precisão e intensidade, ao longo da projeção, chamam muito a atenção.  A produção envolve Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos. Agradou a Academia de Hollywood, está concorrendo a 10 Oscar.  120 min.


Glenn Close em A ESPOSA

A ESPOSA
A ESPOSA (The Wife), dirigido pelo sueco Björn Runge, também coloca a mulher em primeiro plano, mostrando como, quando ela fica por trás do homem famoso, no caso, um escritor que vai receber o Prêmio Nobel de Literatura, tudo pode não passar de uma farsa.  Desempenho absolutamente notável de Glenn Close, que tem tudo para levar o Oscar de atriz.  O filme é bom, mas não chega a empolgar. 101 min.

GREEN BOOK – O GUIA
GREEN BOOK – O GUIA (Green Book), dirigido por Peter Farrely, trata da questão racial no sul dos Estados Unidos, em 1962.  Naquele tempo, o preconceito e as restrições contra os negros eram escancarados e as leis vigentes corroboravam isso.  Um absurdo, que merece ser lembrado.  No mais, o vínculo que se cria entre um motorista branco pobre e um pianista negro, rico e sofisticado, vai na linha de filmes como “Os Intocáveis”, “Conduzindo Miss Daisy”, de relações improváveis, que acabam por vingar.  O que vale é o contexto, embora os dois protagonistas sejam muito bons: Viggo Mortensen e Mahershala Ali.  Tem 5 indicações ao Oscar 2019.  130 min.


GREEN BOOK

PODERIA ME PERDOAR?
PODERIA ME PERDOAR? (Can You Ever Forgive Me?), da diretora estadunidense Marielle Heller, tem no elenco  Melissa McCarthy, Richard Grant e Dolly Wells.  Relata, de uma forma clássica, uma história composta de fatos reais que são surpreendentes.  Uma ótima escritora de biografias, que já foi famosa, enfrenta as consequências das novas expectativas de mercado que, na prática, a excluem.  Escrever bem ela sabe, e em diferentes estilos, porém, para sobreviver, ela usa esse talento de forma criminosa, ganha um bom dinheiro e acaba se saindo bem, computando-se tudo o que aconteceu com ela.  Vale porque é uma boa história, com um elenco muito bom.  Concorre a 3 Oscar (atriz, ator e roteiro).  107 min.


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