Antonio Carlos
Egypto
MARIA CALLAS EM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS (Maria by Callas). França, 2017.
Direção: Tom Volf.
Documentário. 113 min.
Maria Callas (1923-1977) tem sido reconhecida
como a maior cantora lírica do século XX ou, mesmo, de toda a história do bel canto. Um documentário que pretenda registrar sua
figura humana e sua obra musical tem, antes de mais nada, que apresentar sua performance vocal às novas
gerações. Esse é o primeiro mérito do
filme de Tom Volf: é possível vê-la e ouvi-la cantar vários números, do começo
ao fim de cada canção. Evita-se, assim,
aquela sensação de colcha de retalhos, excertos musicais que não dão a dimensão
real do trabalho artístico.
A vida de Maria Callas foi cercada de
polêmicas, amores, frustrações, cobranças do público e da crítica. A maneira encontrada pelo documentário para
abordar tudo isso foi montar o filme todo por meio das palavras da própria
cantora, como o título em portiuguês já entrega. Entrevistas, depoimentos, cartas, gravações
em vídeo, dão conta da dimensão dessa vida intensa e rica, totalmente dedicada
à música e ao amor.
Callas, nascida em Nova York, de uma família
de imigrantes gregos, se naturaliza grega, por conta de seu envolvimento
amoroso com Aristóteles Onassis que, apesar de provocar grande decepção e
frustração, acabou resistindo, pelo menos como forte amizade, até a morte dele. Segundo o que se vê no filme, e o tempo decorrido
em cada relacionamento confirma, o papel de Maria Callas na vida de Onassis foi
muito mais forte do que o de Jacqueline Kennedy. E o de Onassis para Callas, total e
arrasador.
O que “Maria by Callas” enfoca bem é o
desgaste provocado por uma vida de constantes desempenhos espetaculares,
exigidos e amados pelo público, que impõem um preço alto a pagar. Quando uma doença e a perda da voz obrigam a
suspensão de um espetáculo no meio, isso assume ares de tragédia e as críticas
e incompreensões se estabelecem.
O conflito entre uma vida artística tão
exigente e a vida pessoal e familiar que não se realizam nunca em plenitude é o
que está na base da abordagem do filme.
Maria tem que levar Callas para todo lugar e para sempre, comprometendo
sua intimidade e suas pretensões a uma vida simples e comum. A celebridade engole a pessoa.
Além de
excepcional cantora, Maria Callas era também boa atriz. Aliás, condição indispensável para o seu
retumbante êxito na ópera. Daí para a
experiência no cinema é um pulo. Ela
trabalhou para ninguém menos que Pier Paolo Pasolini (1922-1975), em “Medeia”,
por exemplo. Mas a carreira
cinematográfica não chegou a decolar.
Sua missão maior – a difusão do canto lírico para diversas gerações –
venceu tudo. Já próxima da morte, Maria
Callas buscava, mais uma vez, retornar aos palcos, lugar onde ela se sentia em
casa.
O filme de Tom Volf emociona, ao resgatar essa
bela história, incluindo imagens raras de arquivo, filmagens pessoais, cartas
íntimas, e ao nos apresentar maravilhosas performances
musicais da grande diva. É daqueles
filmes que colecionadores gostarão de ter em casa, para ver e rever. A arte e a beleza são fascinantes para quem
desenvolve a sensibilidade para apreciá-las.
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