Antonio Carlos
Egypto
DÉGRADÉ (Dégradé). Palestina, 2015. Direção: Tarzan e Arab Nasser. Com Hiam Abbass, Maisa Abd Elhadi, Manal
Awad, Victoria Balitska. 83 min.
Num salão de beleza cheio de mulheres, rola papo
sobre os relacionamentos com os homens, as fofocas, notícias e amenidades. Num salão de beleza em dia de verão, na Faixa
de Gaza, com a energia ligada, também.
Mas o clima é muito mais tenso e incerto. Para começar, porque a energia pode acabar a
qualquer momento e aí tudo se complica.
O salão de Christine tem até um precário gerador próprio, para amenizar
a situação. Mas lá fora podem-se ouvir
tiros, há um leão, o único do zoo local, que foi roubado e circula pela rua
monitorado por bandidos. O exército
israelense exerce um controle opressor sobre o pedaço. Imagine se o grupo terrorista Hamas decidir
acertar as contas por lá. Tudo muito
difícil.
Só que um salão desses continua funcionando, ainda
que nas condições aqui descritas. Uma
noiva, uma grávida, uma religiosa, uma divorciada insatisfeita, uma viciada em
remédios tarja preta e uma interessada demais na vida dos outros estão por lá,
tentando se arrumar e se cuidar.
Convivem num microcosmos que pretende refletir a realidade das mulheres
daquela sociedade e o seu entorno infernal.
É disso que trata o filme palestino “Dégradé”,
dirigido por Tarzan e Arab Nasser, uma produção que contou com a participação
financeira da França e do Qatar, que, ao que consta, se inspirou em fatos
reais, ocorridos em 2007. É estranho,
mas perfeitamente possível. A realidade,
por vezes, supera a mais audaciosa ficção.
O filme, sem ser nenhuma obra de arte, é um bom
trabalho, com boas sequências e boas atrizes, com destaque para a excelente Hiam
Abbass, que já estrelou muitas produções do Oriente Médio, como “Free Zone”, “A
Noiva Síria”, “Paradise Now”, “Lemon Tree”, “Uma Garrafa no Mar de Gaza”, “O
Casamento de May”.
Não é todo dia que se pode ver um filme da Palestina,
que consegue nos trazer as emoções do que se vive por lá, nessa zona
conflagrada, onde parece não haver espaço para a vida comum do dia a dia, com
as preocupações normais que qualquer pessoa tem, em qualquer parte do mundo. A vida a que todos têm o direito de ter.
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